São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Saúde privada

P ESQUISA conduzida pelo médico Gilson Carvalho com base em dados do Ministério da Saúde e do IBGE concluiu que a maioria dos recursos aplicados em saúde no país já vem do setor privado. Hoje, o Sistema Único de Saúde (SUS) responde por 49% dos gastos, contra 51% de planos e particulares. Há 12 anos, essas cifras eram de 61,6% e 38,4%, respectivamente.
Com mais renda, é natural que as pessoas invistam na própria saúde. Mas esses dados revelam, igualmente, algum sucateamento do sistema público. O aumento de 27% nos usuários de planos de saúde, que saltaram de 30,7 milhões para 39 milhões de 2000 a 2006, não é só função da melhoria da situação econômica, mas também do descontentamento com a rede estatal.
Seria injusto com sucessivas administrações afirmar que não houve avanços. Em 1995, o governo aplicava US$ 293 por brasileiro no SUS. Uma década depois, esse valor praticamente dobrou, atingindo US$ 590.
Isso, porém, ainda é insuficiente. Países como a Argentina e o Uruguai gastam mais e com maior participação dos cofres públicos. Em 2001, por exemplo, o investimento per capita no Brasil correspondeu a um terço do verificado na Argentina.
Para agravar o quadro, a inflação na área médica, por embutir os custos da incorporação de novas tecnologias, costuma correr acima dos índices de preços ao consumidor. A inflação acumulada de 2002 a 2004 foi de 32%, contra 44% na área médica.
Com o fenômeno do envelhecimento da população, a pressão sobre o SUS e os planos de saúde deverá crescer acentuadamente. A menos que o país comece desde já a preparar-se, poderá haver um apagão sanitário.
Sem condições fiscais de aumentar depressa o gasto público na saúde, o caminho do Estado brasileiro é melhorar a gestão dos recursos existentes, pois há muita margem para isso, e insistir nos cuidados preventivos. Em relação ao setor privado, é necessário aperfeiçoar a regulação. Muitos dos produtos oferecidos à população fornecem serviços tão ruins como -e às vezes piores que- os da rede pública.


Texto Anterior: Editoriais: Rápida deterioração
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: De palavrões à derrota
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.