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KENNETH MAXWELL
Uma morte oportuna
CLÁUDIO MANUEL da Costa
morreu em 4 de julho de
1789. Estava detido e sob interrogatório na Casa dos Contos,
em Vila Rica, então capital da Capitania de Minas Gerais. Havia sido
detido em companhia de diversas
outras pessoas envolvidas no complô contra o domínio português.
Cláudio era um dos mais distintos entre os conspiradores de Minas. Estudante em Coimbra, era
bem conhecido em todo o mundo
lusófono como resultado de sua
poesia. O envolvimento dele na
trama foi uma notícia importante.
Antigo secretário dos governadores de Minas Gerais, Cláudio era
um advogado conhecido, com muitos clientes entre os fazendeiros e
mineradores da região.
O mistério quanto à morte de
Cláudio gira em torno do momento
em que ela aconteceu e do motivo
pelo qual aconteceu. O visconde de
Barbacena, governador de Minas
Gerais, em despacho a Lisboa datado de 11 de julho, não mencionou a
morte de Cláudio, embora discutisse seu testemunho. Ele reportou
o "suicídio" de Cláudio em 15 de julho, incluindo um relatório médico. Os conspiradores que estavam
no Rio de Janeiro já haviam sido
detidos àquela altura, entre os
quais estava o alferes Joaquim José
da Silva Xavier, mais conhecido
por seu apelido, Tiradentes. A comissão de inquérito apontada pelo
vice-rei já estava a caminho do Rio
de Janeiro.
O interrogatório de Cláudio
aconteceu em 2 de julho. O ouvidor
de Sabará, José César Caetano Manitti, escrivão do inquérito encetado por ordem de Barbacena, tomou
precedência no trabalho. Mas jamais foi concedido aos prisioneiros
de Minas o direito de deporem em
presença de um notário, o que era
essencial para que suas respostas
tivessem valor judicial. Manitti,
queixou-se um contemporâneo, os
"iludiu com falsas promessas e insinuações e, em caso de resistência,
recorria à tortura".
As respostas de Cláudio configuravam uma abjeta confissão. Ele
admitiu que o levante proposto havia sido discutido "diversas vezes"
na casa do desembargador Gonzaga. Disse que José Álvares Maciel, o
jovem estudioso educado em
Coimbra, havia viajado à Inglaterra
e trazido com ele de volta ao Brasil
uma cópia da primeira publicação
das leis constitucionais dos Estados Unidos, em francês.
Dois dias depois do interrogatório, Cláudio foi encontrado morto,
pendendo enforcado em sua cela
improvisada. Um dos médicos envolvidos veio a alegar mais tarde
que a história de suicídio havia sido
usada para encobrir a verdade. Afinal, haviam sido rezadas missas
por ele. A verdade, revelou o médico, é que Cláudio Manuel da Costa
havia sido assassinado.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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