São Paulo, quinta-feira, 30 de abril de 2009

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KENNETH MAXWELL

Uma morte oportuna

CLÁUDIO MANUEL da Costa morreu em 4 de julho de 1789. Estava detido e sob interrogatório na Casa dos Contos, em Vila Rica, então capital da Capitania de Minas Gerais. Havia sido detido em companhia de diversas outras pessoas envolvidas no complô contra o domínio português.
Cláudio era um dos mais distintos entre os conspiradores de Minas. Estudante em Coimbra, era bem conhecido em todo o mundo lusófono como resultado de sua poesia. O envolvimento dele na trama foi uma notícia importante.
Antigo secretário dos governadores de Minas Gerais, Cláudio era um advogado conhecido, com muitos clientes entre os fazendeiros e mineradores da região.
O mistério quanto à morte de Cláudio gira em torno do momento em que ela aconteceu e do motivo pelo qual aconteceu. O visconde de Barbacena, governador de Minas Gerais, em despacho a Lisboa datado de 11 de julho, não mencionou a morte de Cláudio, embora discutisse seu testemunho. Ele reportou o "suicídio" de Cláudio em 15 de julho, incluindo um relatório médico. Os conspiradores que estavam no Rio de Janeiro já haviam sido detidos àquela altura, entre os quais estava o alferes Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido por seu apelido, Tiradentes. A comissão de inquérito apontada pelo vice-rei já estava a caminho do Rio de Janeiro.
O interrogatório de Cláudio aconteceu em 2 de julho. O ouvidor de Sabará, José César Caetano Manitti, escrivão do inquérito encetado por ordem de Barbacena, tomou precedência no trabalho. Mas jamais foi concedido aos prisioneiros de Minas o direito de deporem em presença de um notário, o que era essencial para que suas respostas tivessem valor judicial. Manitti, queixou-se um contemporâneo, os "iludiu com falsas promessas e insinuações e, em caso de resistência, recorria à tortura".
As respostas de Cláudio configuravam uma abjeta confissão. Ele admitiu que o levante proposto havia sido discutido "diversas vezes" na casa do desembargador Gonzaga. Disse que José Álvares Maciel, o jovem estudioso educado em Coimbra, havia viajado à Inglaterra e trazido com ele de volta ao Brasil uma cópia da primeira publicação das leis constitucionais dos Estados Unidos, em francês.
Dois dias depois do interrogatório, Cláudio foi encontrado morto, pendendo enforcado em sua cela improvisada. Um dos médicos envolvidos veio a alegar mais tarde que a história de suicídio havia sido usada para encobrir a verdade. Afinal, haviam sido rezadas missas por ele. A verdade, revelou o médico, é que Cláudio Manuel da Costa havia sido assassinado.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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