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São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2003

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RUA DO TRABALHO

Tratada quase sempre como estatística, a crise do emprego ganha outra dimensão quando relatada por quem a vive. É o caso dos moradores da rua do Trabalho, situada em um bairro de classe média baixa na zona leste de São Paulo. Suas histórias, narradas em reportagem que a Folha publicou no domingo passado, revelam que, na rua chamada Trabalho, boa parte das pessoas não o tem. E quem tem vive de pequenos serviços.
Há o almoxarife de 53 anos que perdeu o emprego em 1999, a um mês da aposentadoria. Nunca mais arranjou outro. Há o rapaz de 22 que teve um único emprego com carteira assinada, do qual foi demitido há três anos. Desde então, nada.
Seu vizinho, 41, já desistiu de procurar trabalho como cozinheiro, apesar do curso completo no Senac. Sobrevive com cerca de R$ 200 mensais extraídos de serviços de pintura. Somando ganhos como vendedor de lenha e instalador de computadores, um ex-funcionário da CMTC (a privatizada companhia de ônibus paulistana), 49, não atinge, malgrado seu diploma universitário, 20% da renda que tinha no emprego perdido há nove anos.
Em entrevista na mesma edição do jornal, o ministro do Trabalho atribuiu o avanço do desemprego no primeiro semestre do governo de Luiz Inácio Lula da Silva à diminuição verificada na renda dos trabalhadores no último ano da gestão de Fernando Henrique Cardoso. Com menos dinheiro em casa, argumentou Jaques Wagner, mais gente saiu em busca de ocupação.
Ninguém pretende afirmar que a crise do emprego, de dimensão mundial, nasceu no Brasil com o governo Lula -embora com ele tenha sido agravada. No entanto está mais do que na hora de a nova gestão descer do palanque e assumir a responsabilidade por suas escolhas. Pois é assim que deve ser entendida a insistência em manter, a despeito da abundância de sinais recessivos e deflacionários, uma política de juros que estrangula a produção e inviabiliza a oferta de trabalho. Sem inflexão clara nessa rota, não há paliativo que atenue o drama do desemprego.


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