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RUA DO TRABALHO
Tratada quase sempre como
estatística, a crise do emprego
ganha outra dimensão quando relatada por quem a vive. É o caso dos
moradores da rua do Trabalho, situada em um bairro de classe média
baixa na zona leste de São Paulo.
Suas histórias, narradas em reportagem que a Folha publicou no domingo passado, revelam que, na rua
chamada Trabalho, boa parte das
pessoas não o tem. E quem tem vive
de pequenos serviços.
Há o almoxarife de 53 anos que
perdeu o emprego em 1999, a um
mês da aposentadoria. Nunca mais
arranjou outro. Há o rapaz de 22 que
teve um único emprego com carteira
assinada, do qual foi demitido há
três anos. Desde então, nada.
Seu vizinho, 41, já desistiu de procurar trabalho como cozinheiro,
apesar do curso completo no Senac.
Sobrevive com cerca de R$ 200 mensais extraídos de serviços de pintura.
Somando ganhos como vendedor
de lenha e instalador de computadores, um ex-funcionário da CMTC (a
privatizada companhia de ônibus
paulistana), 49, não atinge, malgrado seu diploma universitário, 20%
da renda que tinha no emprego perdido há nove anos.
Em entrevista na mesma edição do
jornal, o ministro do Trabalho atribuiu o avanço do desemprego no
primeiro semestre do governo de
Luiz Inácio Lula da Silva à diminuição verificada na renda dos trabalhadores no último ano da gestão de
Fernando Henrique Cardoso. Com
menos dinheiro em casa, argumentou Jaques Wagner, mais gente saiu
em busca de ocupação.
Ninguém pretende afirmar que a
crise do emprego, de dimensão
mundial, nasceu no Brasil com o governo Lula -embora com ele tenha
sido agravada. No entanto está mais
do que na hora de a nova gestão descer do palanque e assumir a responsabilidade por suas escolhas. Pois é
assim que deve ser entendida a insistência em manter, a despeito da
abundância de sinais recessivos e deflacionários, uma política de juros
que estrangula a produção e inviabiliza a oferta de trabalho. Sem inflexão clara nessa rota, não há paliativo
que atenue o drama do desemprego.
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