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BC EMPAREDADO
A ata da reunião deste mês
do Comitê de Política Monetária (Copom) não deixa dúvidas de
que o Banco Central se encontra emparedado entre as pressões inflacionárias em curso e as metas de inflação que é obrigado a cumprir. Há temores não apenas de que a inflação
ameace o teto de 8% estabelecido para este ano, mas que o objetivo de
2005, recentemente confirmado em
4,5%, revele-se por demais ambicioso -como analistas já haviam previsto e esta Folha alertado.
Sendo assim, o Copom anuncia
que irá manter a taxa Selic em 16% ao
ano "por um longo período de tempo" e chega a acenar com a possibilidade de assumir uma postura "mais
ativa" em relação aos juros -ou seja,
aumentá-los a depender da evolução
do cenário. Parecem, portanto, praticamente nulas as chances de os juros
serem cortados até o fim do ano, assim como são improváveis aumentos da taxa Selic pelo menos até as
eleições municipais. Imobilizado
nessa camisa-de-força, resta ao BC
esperar que a manutenção da Selic
em 16% permita, como diz a ata, um
"controle benigno da inflação".
As preocupações do Copom quanto à inflação são de duas ordens. Em
primeiro lugar, teme os efeitos sobre
os preços ao consumidor das altas
do petróleo e de algumas commodities, que têm elevado os custos das
empresas. Em segundo lugar, a autoridade monetária receia que os investimentos sejam insuficientes para
evitar gargalos de produção e desequilíbrios entre oferta e demanda,
ameaçando a tão propalada sustentabilidade do crescimento.
O quadro, de fato, é preocupante.
Do ponto de vista dos instrumentos
institucionais, está claro que o sistema de metas de inflação merece ser
aperfeiçoado para que a política monetária possa responder de forma
mais racional a choques de oferta,
como a alta dos combustíveis, e a aumentos de preços administrados,
como os das tarifas públicas.
Já foram levadas a debate propostas
no sentido de alongar o período de
cumprimento das metas e de rediscutir a composição do índice que
lhes serve de base. O governo, no entanto, tem ignorado a questão, talvez
acreditando que sua credibilidade se
fortalece ao anunciar metas ambiciosas no intuito de constranger os
agentes econômicos a segui-las. Seria prudente, no entanto, considerar
que essa aposta pode ser perdida, seja ao ficar patente o irrealismo dos
objetivos fixados, seja ao ver-se o BC
compelido a determinar nova rodada
de elevação dos juros, com os conhecidos efeitos danosos para a produção, o emprego e a dívida pública.
Juros altos contribuem exatamente
para dificultar os necessários investimentos na ampliação da capacidade
do setor produtivo e para alimentar o
círculo vicioso que, em benefício de
distorções rentistas, impede o país
de ingressar numa trajetória de crescimento expressivo e sustentado.
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