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Por procuração
Chave para desfazer o pacto extremista é trazer a Síria para o campo dos moderados; crise pode ensejar iniciativa de paz
"O
IRÃ e a Síria estão
dispostos a lutar
até o último libanês." Embora jocosa, a frase descreve com precisão uma faceta importante do
atual conflito no Oriente Médio.
É uma guerra por procuração. De
um lado estão os grupos terroristas Hamas (palestino) e Hizbollah (libanês) apoiados por Irã e
Síria. De outro, Israel com o decisivo amparo dos EUA. As vítimas
são, pela ordem de escala, as populações civis libanesa, palestina
e israelense, que sofrem e morrem com bombas e foguetes.
É imperativo suspender de
imediato as hostilidades, mas isso não basta. É preciso criar condições para que o cessar-fogo
não seja apenas um intervalo entre duas guerras. Aplicar a resolução 1.559 do Conselho de Segurança da ONU, que determina o
desarmamento das milícias libanesas, é o passo fundamental.
A ofensiva israelense foi provocada por uma ação concertada
das forças extremistas na região,
que seqüestraram soldados judeus. Fizeram-no com vistas a
três propósitos. Reduzir a pressão que até palestinos vinham
exercendo para forçar o Hamas a
reconhecer Israel. Suspender o
processo de democratização do
Líbano, que vinha alijando a Síria
da influência que exercia sobre o
vizinho. E lançar para segundo
plano as tentativas internacionais de fazer o Irã interromper
seu programa nuclear. Em maior
ou menor grau, conseguiram.
A aliança entre os radicais, porém, é mais circunstancial do
que ideológica. Hizbollah e Irã
são xiitas, enquanto Hamas e a
Síria são majoritariamente sunitas. Quando não enfrentam inimigo comum (Israel), representantes dessas duas seitas islâmicas costumam digladiar-se.
A chave para desfazer o pacto
dos extremistas é trazer a Síria
para o campo dos países árabes
moderados, como Egito, Jordânia e Arábia Saudita. É sintomático que os sauditas, sempre os
primeiros a condenar Israel por
não importa o quê, desta vez tenham imputado ao Hizbollah a
responsabilidade pela crise.
Sem utilizar a Síria como corredor, o Irã não teria meios de seguir armando a milícia xiita. Não
será fácil trazer Damasco para o
lado dos moderados, mas essa
não é uma tarefa impossível.
O ditador sírio Bashar al Assad
já esteve aliado ao Ocidente.
Após o 11 de Setembro, Damasco
auxiliou os EUA com informações sobre a rede terrorista Al
Qaeda. A Síria, contudo, foi afastada das boas relações com Washington principalmente pelo
apoio prestado ao Hizbollah, o
que lhe valeu a inclusão no "eixo
do mal" dos discursos de Bush.
Assad não cobrará pouco para
romper com os terroristas. Exigirá alguma "indenização" pela
perda da influência sobre Beirute. EUA e Israel têm recursos para bancar a paz. Israel pode acenar com a devolução das colinas
do Golã, tomadas à Síria em 1967.
A atual crise tem chances de
tornar-se uma oportunidade para uma iniciativa de paz mais
ampla no Oriente Médio, que leve à criação de um Estado palestino e à normalização das relações entre Israel e seus vizinhos
árabes. Ainda não se revelaram
estadistas à altura desse desafio.
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