São Paulo, domingo, 30 de julho de 2006

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Burocracia travando novos empregos

VÁRIOS ESTUDOS têm mostrado que os programas públicos de transferência de renda, como o Bolsa-Família, estão conseguindo reduzir a pobreza.
No curto prazo, não há como substituí-los. Mas até que ponto as finanças públicas agüentarão? Há ainda sérias dúvidas de que seus beneficiários venham a contribuir para elevar a produtividade do país. Melhor seria, é claro, reduzir a pobreza por meio de trabalhos produtivos. Mas isso depende de educação e de empregos.
No que tange à educação, á auspicioso saber que 68% dos eleitores definem a educação como a máxima prioridade para o próximo governo. A população sabe que, na sociedade do conhecimento, a capacitação profissional é crucial para trabalhar e progredir na vida.
A mesma pesquisa atribuiu um peso de apenas 19% aos programas públicos de transferência de renda, mostrando que o povo prefere caminhar com suas próprias pernas, exercendo uma profissão, e dela gerando a renda que é necessária para a manutenção da família brasileira ("Eleitor quer mais educação para reduzir a pobreza", "Valor", 27/7/2006).
O Brasil conseguiu matricular todas as crianças na escola -o que é positivo. Para competir e ter êxito no mercado do trabalho, porém, é preciso que essas crianças prossigam até o final dos cursos. Esse continua sendo um problema sério. A maioria das crianças não chega à oitava série. E as que chegam têm sérias falhas de formação.
No que tange ao emprego, esse depende dos investimentos que, como se sabe, têm sido anêmicos. Para estimulá-los, é imprescindível criar-se um bom ambiente para os negócios em geral, além de sanear as finanças públicas de modo a impulsionar os investimentos governamentais em infra-estrutura, educação, saúde e outras áreas. No mesmo jornal, encontrei uma outra pesquisa (Banco Mundial), segundo a qual o Brasil está no 119º lugar, entre 155 países pesquisados, em termos de ambiente para os negócios. O custo da burocracia e a quantidade de tempo perdido continuam colossais. Isso atravanca os investimentos e, conseqüentemente, trava a geração de empregos.
Os pesquisadores estimam que, se tais bloqueios fossem removidos, o PIB do Brasil poderia crescer 2,2% a mais anualmente e a taxa de desemprego seria reduzida em 3,7% a cada ano ("Brasil é um dos países que mais dificultam os negócios", "Valor", 27/7/2006).
Por isso, não basta querer crescer. Aliás, todos querem crescer, mas poucos querem mudar. Essa equação não fecha. São objetivos incompatíveis. Se as reformas estruturais continuarem sendo empurradas com a barriga, ficaremos no assistencialismo o resto da vida. antonio.ermirio antonioermirio.com.br


ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos domingos nesta coluna.


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