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INÉRCIA PERVERSA
A dívida pública encerrou julho
em valor correspondente a
61,9% do PIB -o maior nível da história. Em relação aos 57% do PIB
apurados no final de junho, a alta foi
significativa. O Banco Central, que
divulgou a informação, se apressou
em esclarecer que o resultado adverso se deveu basicamente ao fato de a
cotação do dólar ter encerrado o mês
passado em valor muito alto (R$
3,428). Como a parcela da dívida cujo
valor é atrelado ao dólar é contabilizada pela cotação do final do mês, isso "inflou" os números.
Em agosto, segundo o BC, a dívida
deverá cair, pois o dólar deverá se situar, no final do mês, em cotação inferior à do final de julho. Esse prognóstico, possivelmente correto, não
deveria obscurecer a constatação óbvia de que a alta da dívida não é um
movimento conjuntural, mas sim
uma tendência presente há vários
anos. Por o fenômeno preocupa.
A dívida pública correspondia a
30,4% do PIB no final de 1994. É sabido que parte da alta observada desde
então foi apenas contábil, pois correspondeu ao reconhecimento de
passivos preexistentes ("esqueletos"). Mas a maior parte da alta da dívida foi real e, pior, não teve como
contrapartida uma expansão proporcional dos investimentos públicos.
A alta da dívida é, portanto, um fenômeno basicamente financeiro, ligado ao baixo dinamismo da economia, aos juros elevados e à crescente
dolarização do passivo público.
Essa dolarização corresponde, em
grande medida, a uma socialização
do risco cambial. O expediente de
vender títulos cambiais permitiu que
fortes altas do dólar não fossem
acompanhadas por uma onda de
quebras de empresas endividadas no
exterior. Mas, em contrapartida, a dívida pública se tornou muito sensível
à valorização do dólar.
A inércia perversa que alimenta a
alta da dívida (e fomenta receios entre os credores do setor público) tem
de ser rompida. Para reter sua credibilidade, fugindo de ajustes traumáticos que desvalorizem a dívida, o
próximo governo precisa recolocar a
economia na senda do crescimento.
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