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JOSÉ SARNEY
Crescer ou morrer
A crise cambial, a segunda em
menos de cinco anos, os reflexos
internacionais de alguns índices vermelhos da economia do país, as altas
taxas de risco, o pedido de socorro ao
Fundo Monetário Internacional, tudo
isso levou a economia ao centro do debate sucessório e remeteu ao banco de
reservas o mais dramático de todos os
temas de interesse dos brasileiros, a
violência, indicado nas pesquisas qualitativas como o primeiro.
Diz-se que a violência somente ocorre e prospera devido à ineficiência do
aparato policial, à inexistência de uma
justiça penal ágil, à falta de um sistema
penitenciário moderno e de leis mais
duras, a baixos salários dos policiais e
à ausência de recursos humanos qualificados na área. Tudo isso é verdade.
O resultado é uma sociedade de pessoas encarceradas em suas casas e dominadas pelo sentimento do medo.
Juscelino dizia que Deus o havia poupado desse sentimento, mas se contradisse ao afirmar que tinha medo de
ter medo. Hoje o que temos todos é o
medo de não ter medo. Nesse clima, as
recomendações dos experts em defesa
pessoal são para não reagir e aceitar o
assalto, o sequestro ou o estupro para
evitar a morte. A insegurança deforma
e modifica as condutas e apodrece a
sociedade e as pessoas. "Viver não é
brincadeira, não", diz a canção popular. Sobreviver, então, é terrível. Os valores da vida se esgarçam.
Onde está a fonte da violência? Uns
falam na pobreza, outros, na predisposição de determinadas pessoas para
a prática do crime -quase uma doença, uma patologia do comportamento.
Todas as hipóteses devem ser consideradas, inclusive a "ocasião faz o ladrão", do ditado popular.
Quero apontar uma causa na raiz de
todas essas mazelas: a falta de crescimento econômico. O país está estagnado há uma década. E as estatísticas
de violência sobem quando não há
crescimento. Sem crescimento, o desemprego aumenta, a riqueza não circula e desaparecem as oportunidades.
E as novas gerações, que deveriam ingressar no mercado de trabalho, ficam
frustradas e caminham sem horizontes para a marginalidade, para o crime, para os vícios, para as drogas. Não
há espaço para esperança nem para
utopias.
A ligação entre a pobreza e a violência está ausente do debate sucessório.
Violência não se combate sem que se
ataquem as causas estruturais que a
determinam. Sem crescimento econômico não há trabalho, há desemprego.
A estagnação da economia corrói as
bases da sociedade.
E como fazer crescer a economia e a
renda das pessoas? O Estado, sempre
o grande investidor em países em desenvolvimento, está exangue. A poupança interna é baixa, e os investimentos externos mínguam.
Sem crescimento, é impossível resolver os problemas de educação, de
saúde, de emprego, de segurança.
Crescer e como crescer, eis a questão. Não é exportar ou morrer, é crescer ou morrer.
Se não retomarmos o desenvolvimento econômico nem diminuirmos
o desnível de renda e se persistir o desemprego, só nos restarão tempos difíceis. Aí, teremos de apelar para a filosofia dos pára-choques de caminhão:
"Em tempo de crise, urubu come
goiaba verde". E aí, "se parar, o Bush
pega; se correr, o Bush come".
José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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