São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 2005

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BASTA DE ESPETÁCULO

Salta aos olhos o contraste entre a profusão de depoimentos e quebras de sigilo requeridos pelas três CPIs em curso e os resultados obtidos por cada uma delas. Quando contabilizadas essas medidas, o disparate entre eficiência e pirotecnia fica ainda mais flagrante.
Segundo levantamento realizado por esta Folha, até sexta-feira as comissões dos Correios, do Mensalão e dos Bingos haviam aprovado mais de 220 convocações para depoimentos de testemunhas e acusados de envolvimento em corrupção -sem falar nas centenas de documentos coletados que ainda permanecem à espera de melhor análise.
Esses números, como tem sido possível constatar, até agora não se traduziram em produtividade. Pelo contrário, a profusão de depoimentos e papéis parece atrapalhar as investigações. Mesmo que não convocassem mais nenhum depoente, as três CPIs, segundo se estima, não encerrariam seus trabalhos antes de abril do ano que vem.
Essa situação expressa bem o fato de que o interesse em solucionar os escândalos tem cedido espaço à sede de publicidade gratuita dos parlamentares. Quem já teve a oportunidade de acompanhar algum depoimento pela televisão ou pelo rádio sabe bem que, não raro, intervenções que deveriam ter um cunho apenas investigativo se alongam para dar lugar à mera promoção política.
Lamentavelmente, fatos como esses confirmam os prognósticos segundo os quais seria improdutivo formar três comissões parlamentares para investigar as denúncias de corrupção. Em vez de racionalizar as investigações, dividindo tarefas e explorando os diversos flancos dos escândalos, as CPIs na verdade multiplicaram os palanques e, com eles, as deploráveis demonstrações de histrionismo, grosseria e hipocrisia de seus integrantes.
Diante da gravidade da crise e da necessidade de o país avançar, as comissões precisam abandonar os holofotes e começar a apresentar provas e conclusões. Basta de espetáculo. Que apareçam os resultados.


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