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CLÓVIS ROSSI
Saiam já daí, indecorosos
SÃO PAULO - O Brasil não seria o país da "enrolation" se não discutisse
um assunto absurdamente inútil,
que é saber se houve ou não "mensalão" para parlamentares.
Menos mal que um deputado, Júlio
Delgado (PSB-MG), ponha as coisas
no devido lugar ao dizer: "Qual a diferença entre um deputado que recebeu recursos mensalmente e outro
que recebeu para pagar despesa de
campanha? Nenhuma. Ambos ficam
comprometidos com o governo".
Só faltou acrescentar que é irrelevante, absurdamente irrelevante, saber se os congressistas se venderam
em suaves prestações mensais ou em
uma, duas ou três tacadas só. Em
qualquer caso, está caracterizada a
falta de decoro e, por extensão, a necessidade de cassar os mandatos dessa turma toda.
Ou por acaso é indecoroso receber
"mensalão" mas é decente vender-se
em apenas uma ou duas parcelas? Seria risível discutir a questão não fosse
este o país da permanente tentativa
de trambique.
Houvesse uma liderança congressual minimamente séria, em vez de
Severino Cavalcanti, e o processo de
cassação já estaria concluído. O crime está provado, pela confissão de
quem pagou (Delúbio Soares e Marcos Valério) e pelo reconhecimento de
quem recebeu (os 18 da lista que o relator Osmar Serraglio promete fazer).
Não há defesa para essa gente. Podem alegar o diabo como motivo para receber o dinheiro. Continuarão
sendo indecorosos -e, portanto,
obrigatoriamente cassáveis.
Todo o resto é embromação, é argumento de advogado de porta de cadeia, o que não deveria caber no
Congresso Nacional houvesse um mínimo de vergonha na cara da maioria dos parlamentares.
Pode, sim, haver crimes adicionais,
mas, como não é possível cassar mais
de uma vez o mesmo deputado, que
sejam eliminados já aqueles sobre os
quais está tudo comprovadinho da
silva e que prossigam as investigações, até para saber de quem veio o
dinheiro do "PTduto".
@ - crossi@uol.com.br
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