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MÉDICO-PROPAGANDA
A relação promíscua entre
médicos e laboratórios já levantou tantas polêmicas que até burocracias tradicionalmente lentas como a do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) já baixaram, em 2000, resoluções para disciplinar a matéria. As normas representaram um avanço, mas estão longe de ter solucionado a questão.
Como mostrou reportagem publicada ontem por esta Folha, laboratórios continuam assediando profissionais da saúde e transformando
médicos em garotos-propaganda.
Fazem-no das mais variadas formas,
que vão da oferta de brindes ao pagamento de viagens para congressos.
Se as fronteiras entre o que é propaganda legítima e o que configura infração ética já são difíceis de definir,
mais complexo é regulamentar a matéria. Implementar de fato as regras,
então, torna-se quase uma quimera.
Como se não bastasse, laboratórios são também acusados de tentar
manipular a pauta de eventos científicos em favor de seus produtos e de
esconder da comunidade acadêmica
resultados de testes desfavoráveis.
Reconheça-se que a indústria investe grandes somas para pesquisar
e desenvolver um produto, que, muitas vezes, já na fase final de testes, se
revela problemático -ocasionando
a perda dos recursos aplicados. O laboratório precisa, assim, extrair o
maior proveito comercial possível
das drogas que chegam ao mercado.
É justamente aí que reside o perigo.
Mesmo quando o novo fármaco não
é tão revolucionário, o laboratório,
para reaver o investimento, tenta
mostrar o contrário, valendo-se de
técnicas normais de propaganda, da
sedução direta ao médico e da manipulação de evidências científicas.
Claro que não se pode -nem se
deve- negar à indústria o direito de
relacionar-se com médicos. É preciso, porém, que esse relacionamento
seja melhor acompanhado pelas instâncias responsáveis de modo a fazer
valer os limites dentro dos quais ele
pode transcorrer legitimamente.
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