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CARLOS HEITOR CONY
Conjunto de obra
RIO DE JANEIRO - No cinema, na literatura, nas artes plásticas e na música, criou-se a cultura dos prêmios,
distribuídos anualmente ou, em casos especiais, para comemorar datas
ou eventos, como o centenário de
uma cidade ou instituição. Ditos prêmios são geralmente relativos a obras
específicas, surgidas em determinado
período.
Há, porém, um prêmio destacado, o
mais consagrador, dedicado ao conjunto de obra. O Prêmio Nobel de Literatura e o Machado de Assis, da
Academia Brasileira de Letras, estão
nesta categoria. O premiado nem
precisa ter feito obra alguma nos últimos tempos; é laureado pelo que já
fez, pelo conjunto de sua produção.
Analisando-se o governo Lula por
esse prisma, acredito que deva ser julgado pelo conjunto da obra que fez
em dois anos e meio de mandato. E
esse julgamento inclui necessariamente os últimos escândalos que
traumatizam a nação e a envergonham, ainda que as investigações
técnicas não tenham chegado a uma
conclusão.
Sim, não há conclusão, mas um julgamento global de tudo o que houve.
As responsabilidades pessoais não estão ainda determinadas. É possível
que as acusações que pesam contra
fulano ou sicrano sejam retiradas e
surjam outras que esperam o momento de explodir sua malignidade.
Contudo a pessoa do presidente da
República, responsável maior pelo
governo e pelo partido que está no
poder, desde já pode ser julgada pelo
conjunto de obra. Tudo o que houve,
mesmo antes de o PT chegar aonde
chegou, pode não ter sido feito com o
conhecimento e muito menos com a
aprovação de Lula.
Mas fica impossível isolar o expoente máximo do partido e a autoridade
também máxima do governo de todas as tramóias e assaltos ao bem público cometidos por seus correligionários e auxiliares mais próximos.
Com seu jeitão de homem simples,
do povão, ele botava a mão no fogo,
dava cheques em branco a pessoas
que agora acusa de traição. Mas
quem traiu o seu passado não foram
os outros, foi ele mesmo.
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