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CLÓVIS ROSSI
A consagração da merda
SÃO PAULO - Pegou e fez escola a
sociologia política da merda, exposta inicialmente pelo ator Paulo Betti para justificar a crise ética do governo Lula.
Betti disse, curto e bem grosso:
"Não dá para fazer [política] sem
botar a mão na merda".
Uma semana depois, Lula repete,
menos grosso, mas rigorosamente
com o mesmo sentido: "Política a
gente faz com o que a gente tem.
Não com o que a gente quer". E, em
seguida: "Maioria a gente constrói
pelo que a gente tem ao nosso lado.
Não pelo que a gente pensa que
tem. Esse é o jogo real da política
que precisou ser feito em quatro
anos para que chegássemos a uma
situação altamente confortável".
Não é que seja novidade ou surpresa. Novidade é o fato de que
quem se dizia monopolista da ética
agora assume gostosamente a mais
cínica versão do que é política.
De quebra, desconstrói as versões anteriores, a da "conspiração
das elites" e a do "fui traído", que todo mundo sabia que eram ficções,
mas que foram sustentadas ao longo de toda a crise.
Não houve traição, confessa agora Lula. Houve "o jogo real da política que precisou ser feito". Leia-se: o
mensalão (para não falar em outras
atividades, tipo sanguessugas, que
também envolvem figuras graúdas
do lulo-petismo).
Compare-se o Lula de hoje com o
Lula do seguinte trecho de seu discurso de posse:
"O combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública
serão objetivos centrais e permanentes do meu governo. É preciso
enfrentar com determinação e derrotar a verdadeira cultura da impunidade que prevalece em certos setores da vida brasileira".
Pronto, está demonstrado o estelionato eleitoral praticado em
2002. Vai-se repetir agora, ao que
tudo indica, mas já não como estelionato. O eleitor está informado
que o presidente botou a mão na
merda. Mas não se importa.
crossi@uol.com.br
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