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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Cultura de salão
SÃO PAULO - Estreia hoje à noite o
novo "Roda Viva", apresentado por
Marília "Gabi" Gabriela. Como você, também não vi. As objeções,
aqui, não se referem à perfomance,
mas a princípios. Importa menos
saber se a multiapresentadora está
sóbria ou descolada, cool ou afetada. A questão é anterior.
"Eu sou Marília Gabriela, jornalista. Acredito no Brasil como a Vivo acredita". Até outro dia, a campanha estava no ar. Gabriela empresta (ou vende) seu prestígio, e o
associa à condição de jornalista,
para promover a empresa de telefonia. A mesma Gabriela empresta
seu talento para comandar aquele
que foi (não é mais, já faz tempo) o
principal programa de debate e política na principal emissora pública
do país (talvez não seja mais).
Você não vê William Bonner e
Fátima Bernardes vendendo lançamentos imobillários nos jornais ou
margarina na TV. Já Faustão, que
não é mais jornalista, mas animador das massas, faz de seu programa um camelódromo. A Globo, no
entanto, é uma emissora privada.
Qual o modelo de Marília Gabriela? E quais, sobretudo, são os parâmetros da "nova" TV Cultura?
João Sayad é uma figura ilustre
da sociedade civil progressista, um
banqueiro-intelectual de extração
tucano-petista, com bons serviços
prestados para ambos os lados.
Estranha foi a maneira com que
ele chegou à presidência da TV Cultura, desalojando Paulo Markun,
de quem foi chefe, numa espécie de
golpe palaciano. Mais estranhos,
porém, são os rumos da emissora,
que parece associar vícios estatais e
tentações mercadistas, em prejuízo
do que é propriamente público.
A pergunta "para que serve a
Cultura" deve se desdobrar, à maneira nietzscheana, em outra: a
quem serve a TV Cultura? Acumulam-se evidências de que ela tenha
se tornado uma confraria do tucanato, um tipo de sinecura ou abrigo
para fidalgos decadentes. Não será
contratando a Tina Turner do jornalismo local para afetar um ar modernoso que a Cultura vai recobrar
prestígio ou relevância pública.
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