São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2010

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RUY CASTRO

A morte antes do fim

RIO DE JANEIRO - Dos jornais da semana. O juiz de Paranatinga (MS) está sendo acusado de abuso sexual de crianças em troca de dinheiro. Ele é responsável pelo juizado da Infância e da Adolescência na cidade. Em Goiânia (GO), um pai foi autuado em flagrante por ter jogado o filho, de 3 anos e 10 meses, da sacada de uma loja. O homem tinha ciúmes da ex-mulher e estaria sob o efeito de droga.
Em Poços de Caldas (MG), uma mulher foi presa tentando esconder 57 pedras de crack nas dobras do cobertor que enrolava seu bebê. Ela seria mulher de um traficante que está preso. No Rocha, bairro do Rio, um casal é suspeito de ter assassinado a pancadas o filho de 2 anos e abandonado o corpo para fugir. A mãe seria dependente de crack. Em Jaçanã, bairro de São Paulo, um homem baleado nas costas durante um assalto ainda dirigiu por 10 km até perder a direção. O carro capotou e seu filho, de apenas 20 dias, foi arremessado a 20 metros.
E por aí vai. Na semana passada, contei histórias parecidas, também tiradas do noticiário recente, para mostrar como está difícil ser criança no Brasil. Seria possível fazer crônicas iguais, dia sim, dia não, relatando casos de abandono, pedofilia, maus tratos e toda espécie de violência contra crianças brasileiras. Os algozes costumam ser seus pais ou, digamos, responsáveis.
Não sei se foi sempre assim ou se a imprensa é que está mais atenta. E não quer dizer que as crianças sejam somente vítimas. Em São Bernardo do Campo (Grande SP), outro dia, dois adolescentes roubaram um carro e foram perseguidos pela polícia numa avenida. O carro bateu. Um dos meninos se safou, invadiu uma casa e trocou tiros com a polícia, que o matou.
A juventude está sendo convocada a participar cada vez mais cedo da vida real, em papéis que não lhe assentam. Neste filme, mal escrito e ainda pior dirigido, é o Brasil que morre antes do fim.


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