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RICARDO YOUNG
Um país em chamas
Essa expressão tem sido
mais usada para referir-se a
nações envolvidas em conflitos sangrentos.
No caso do Brasil de hoje, o
sentido é literal: do Oiapoque
ao Chuí, há incêndios nas matas e fumaça encobrindo cidades, piorando os efeitos da poluição e da estiagem em todo
lugar. Segundo o Inpe, o número de queimadas aumentou quase 100% em relação a
2009. Está difícil respirar.
A revolta vem da consciência de que, mesmo com tempo
mais seco e estiagem mais longa, este fogo não é obra dos
deuses do clima. O incêndio
que acaba com florestas, biodiversidade, casas e negócios
é obra "nossa", ou melhor, de
proprietários de fazendas e lotes urbanos que, mesmo contra a lei e sem licença ambiental, tocam fogo a pastos, lavouras e terrenos baldios urbanos para limpar a área.
Estes incêndios avançam sobre as florestas e recrudescem, por causa da vegetação
mais seca devido à estiagem
prolongada. A fumaça e a fuligem são levadas pelo vento e
chegam às grandes cidades,
tornando ainda mais irrespirável o ar das metrópoles e causando mais incêndios nas beiras de estradas.
Usar fogo para manejar pastos ou lavouras ou limpar terrenos é ilegal no Brasil. O valor
da multa é de R$ 1 mil por hectare queimado mais o embargo da área incendiada. No Pará, o Ibama já multou em mais
de R$ 700 mil os proprietários
e embargou as fazendas.
Mas quem pagará os prejuízos das propriedades que foram atingidas pelo fogo sem
tê-lo causado? Ou pela perda
de florestas e da biodiversidade? Ou ainda pelas doenças
respiratórias?
Um estudo feito pelo Ipam
nos últimos quatro anos, com
incêndio controlado, verificou
que a mata queimada não se
regenera como antes e, portanto, não recompõe a umidade do ar, tornando praticamente permanente a estiagem, o perigo dos incêndios e
todas as suas consequências.
Outro estudo, do Banco
Mundial, com a participação
do renomado pesquisador
Carlos Nobre, avaliou que a
floresta amazônica pode entrar em colapso até 2075, pela
conjunção de três fatores: mudanças do clima, queimadas e
desmatamento.
Os órgãos públicos parecem
não estar capacitados para enfrentar um problema de tais
dimensões. O que fazer? Agir.
Aumentando as verbas para
combate às queimadas e regulamentando a lei de mudanças no clima, para tornar obrigatória a redução de emissões
na agropecuária.
Quarta-feira, numa grande
"tuitada nacional", mais de 25
mil pessoas protestaram contra esta fogueira geral. Foi a
maior manifestação ambiental virtual do país. "Chega de
queimada" era o lema.
Para quem quiser se manifestar: #chegadequeimada.
RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna.
ricardoyoung@uol.com.br
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