São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2010

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RICARDO YOUNG

Um país em chamas

Essa expressão tem sido mais usada para referir-se a nações envolvidas em conflitos sangrentos.
No caso do Brasil de hoje, o sentido é literal: do Oiapoque ao Chuí, há incêndios nas matas e fumaça encobrindo cidades, piorando os efeitos da poluição e da estiagem em todo lugar. Segundo o Inpe, o número de queimadas aumentou quase 100% em relação a 2009. Está difícil respirar.
A revolta vem da consciência de que, mesmo com tempo mais seco e estiagem mais longa, este fogo não é obra dos deuses do clima. O incêndio que acaba com florestas, biodiversidade, casas e negócios é obra "nossa", ou melhor, de proprietários de fazendas e lotes urbanos que, mesmo contra a lei e sem licença ambiental, tocam fogo a pastos, lavouras e terrenos baldios urbanos para limpar a área.
Estes incêndios avançam sobre as florestas e recrudescem, por causa da vegetação mais seca devido à estiagem prolongada. A fumaça e a fuligem são levadas pelo vento e chegam às grandes cidades, tornando ainda mais irrespirável o ar das metrópoles e causando mais incêndios nas beiras de estradas. Usar fogo para manejar pastos ou lavouras ou limpar terrenos é ilegal no Brasil. O valor da multa é de R$ 1 mil por hectare queimado mais o embargo da área incendiada. No Pará, o Ibama já multou em mais de R$ 700 mil os proprietários e embargou as fazendas.
Mas quem pagará os prejuízos das propriedades que foram atingidas pelo fogo sem tê-lo causado? Ou pela perda de florestas e da biodiversidade? Ou ainda pelas doenças respiratórias? Um estudo feito pelo Ipam nos últimos quatro anos, com incêndio controlado, verificou que a mata queimada não se regenera como antes e, portanto, não recompõe a umidade do ar, tornando praticamente permanente a estiagem, o perigo dos incêndios e todas as suas consequências.
Outro estudo, do Banco Mundial, com a participação do renomado pesquisador Carlos Nobre, avaliou que a floresta amazônica pode entrar em colapso até 2075, pela conjunção de três fatores: mudanças do clima, queimadas e desmatamento.
Os órgãos públicos parecem não estar capacitados para enfrentar um problema de tais dimensões. O que fazer? Agir.
Aumentando as verbas para combate às queimadas e regulamentando a lei de mudanças no clima, para tornar obrigatória a redução de emissões na agropecuária.
Quarta-feira, numa grande "tuitada nacional", mais de 25 mil pessoas protestaram contra esta fogueira geral. Foi a maior manifestação ambiental virtual do país. "Chega de queimada" era o lema.
Para quem quiser se manifestar: #chegadequeimada.


RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna.
ricardoyoung@uol.com.br



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