São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2010

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ISAIAS RAW

O Brasil e a vacinação infantil


O Butantan, com maciços investimentos de São Paulo, tornou-se o centro do esforço nacional, com autossuficiência associada a desenvolvimento


O artigo do ex-presidente Jimmy Carter e de Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, publicado neste espaço ("Vacinas infantis precisam de incentivos", 15/8) constitui visão universal, que não reflete os avanços do Brasil a partir de 1984, com as metas de autossuficiência, seguidas de inovação e desenvolvimento tecnológico, graças a competência de ministros da Saúde que atravessaram governos, cada qual com sua contribuição.
Esta importante conquista precisa ser mantida e acelerada para os próximos governo e ministro, independentemente de uma posição partidária.
O Brasil oferece vacinação universal pública e gratuita, e o Ministério da Saúde transfere para 25 mil postos as vacinas que adquire.
Estimular a autossuficiência nacional é uma decisão estratégica, que ficou óbvia com a ameaça da gripe aviária H5N1, que, apesar de sua pequena incidência, matava metade dos infectados.
O medo de uma pandemia fez com que os poucos produtores, todos nos países avançados, reservassem as vacinas para os seus, deixando os países menos desenvolvidos descobertos.
A autossuficiência é a meta correta para um país com a demanda que temos, objeto constante dos produtores multinacionais, que pretendem, como qualquer empresa, dominar o mercado e a tecnologia mundial.
O Butantan, com consideráveis investimentos do Estado de São Paulo, tornou-se o centro do esforço nacional, onde autossuficiência se associa a inovação e desenvolvimento. Atesta o próprio ministério, que recebeu no ano passado 204 milhões de doses de vacinas, combinadas de várias formas.
As suas fábricas representam desenvolvimento tecnológico nacional, que não se conforma em formular vacinas importadas, mas as produz! A vacina contra influenza é a única por transferência tecnológica, mas o desenvolvimento de um novo adjuvante e de uma nova tecnologia de produção de vacina, com vírus inteiro, levará em 2011-12 a uma cobertura maior da vacina.
Isso com uma dose menor de vacina - economizando verbas para saúde, o que, só para a influenza H1N1, permitirá que a fábrica produza mais vacinas e, pelo acordo com o Ministério da Saúde, estenda a vacinação para escolares, impedindo que os vírus sejam levados da escola para a família.
Inovações na vacina de coqueluche e de pneumonia levarão em poucos anos à redução de 11 injeções dolorosas para quatro ou cinco. Essas novas vacinas apontam para redução do custo de mais de 20 vezes, economizando bilhões.
Só a vacina da influenza gastou este ano US$ 500 milhões; as vacinas de pneumonia e rotavírus gastaram outros US$ 250 milhões! Colaborando com os NIH (Institutos Nacionais de Saúde dos EUA), estamos recebendo cepas para testar e produzir vacina de dengue tipos 1-2-3-4, bem como faremos a vacina de rotavírus pentavalente.
O modelo instituto (público) -fundação (privada, sem fins lucrativos), com o mesmo conselho, representa uma inovação administrativa única, que permite atender nossas metas de liderar inovação levada à população.


ISAIAS RAW, 83, professor emérito da Faculdade de Medicina da USP, é presidente do conselho cientifico e tecnológico da Fundação Butantan. Foi fundador da Funbec (Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências) e da Fundação Carlos Chagas.


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