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Collor e FHC
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Como os verbos e os
pederastas, os presidentes da República podem ser divididos em ativos e
passivos. Incluo entre os ativos: Floriano, Bernardes, JK, Geisel e Collor.
Entre os passivos: Deodoro, Washington Luiz, Dutra, Jango, Figueiredo e
FHC. (Vargas é caso à parte.)
Fiquemos nos dois mais recentes.
Collor foi dos mais ativos. Deu régua e
compasso às elites brasileiras. Desde a
gravata ao uísque, passando pelo cooper e pelos slogans gravados em camisetas, foi um Petrônio Árbitro dos entendidos.
Tão ativo que quis enriquecer depressa, conjugou na voz ativa um esquema de corrupção que mobilizou as
elites. No outro lado da corda, foi ativo em iniciar o desmanche de uma
mentalidade isolacionista que, entre
outras coisas, produzia carroças na
indústria automobilística.
FHC é o mais passivo de todos. Será
reeleito com 60%, 70%, 80% de votos
porque soube administrar em proveito
próprio os mananciais subterrâneos
que formam o poder. Como presidente, não conduz. É conduzido pelo vento que sopra mais forte.
Não chega a ser um ditador formal
(o poder verdadeiro não aprecia ditadores que lhe fazem concorrência).
Necessitado do sufrágio popular, criaram para ele um clone do desgastado
cabo eleitoral de antigamente: o real.
Evidente que o poder aceitou a barganha: não custa manter uma moeda artificial, desde que ela dê tranquilidade
ao gigantesco cassino neoliberal.
Nos tempos coloniais, a casa-grande
garantia a cesta básica da senzala: era
um caldeirão com mandioca, farinha,
feijão, abóbora e um pouco de charque. Mantinha a mão-de-obra em pé e
conformada. Havia o pelourinho para
impor o medo, como hoje há o desemprego.
Daí que compreendo o seu discurso
de candidato: homem de confiança do
verdadeiro poder (que é anônimo e
protegido pelo sigilo bancário), ele reconhece que não fez o que queria porque se fizesse poderia ter o destino de
Collor.
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