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O petróleo e a garra brasileira
ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES
Há muito tempo que eu acalentava a
vontade de visitar uma plataforma de
extração de petróleo. Realizei o sonho
na semana passada. Depois de chegar
ao Rio de Janeiro e viajar uma hora
em um helicóptero robusto de 24 lugares, cheguei a uma delas, na bacia
de Campos.
Os impressionantes números do desempenho do Brasil no campo do petróleo são bastante conhecidos. Mas
uma coisa é lidar com estatísticas
frias. Outra é testemunhar ao vivo a
força da inteligência dos nossos irmãos brasileiros. A quantidade de conhecimentos acumulados naquele
complexo engenho é fantástica.
Extrair petróleo do fundo do mar
não é novidade. Muitos povos fazem
isso há várias décadas. Mas perfurar
um poço de 3.500 metros de profundidade, depois de vencida uma lâmina
d'água de mais de mil metros, é uma
obra que dá orgulho de ser brasileiro.
A complexidade da tarefa é reconhecida no mundo inteiro e os seus autores já foram justamente agraciados
com a mais alta homenagem que se
pode prestar à criatividade humana,
que é a concessão do prêmio "Offshore Technology Conference
Award".
Numa hora em que se fala tanto em
Bolsa, juros, especulação e quebradeira, dá gosto ver milhares de talentosos
funcionários cuidando daquilo que é
mais fundamental para o funcionamento do lado real da economia -a
energia.
Há menos de 20 anos, o Brasil gastava o correspondente a 80% de suas exportações para comprar petróleo. Hoje, gasta menos de 5%. Isso não ocorreu por milagre. Ao contrário, foi fruto de muita pesquisa e uma enorme
competência profissional -sem contar, é claro, os milhões de horas de
trabalho, realizadas dia a noite, para
fazer saltar a produção diária de petróleo de 300 mil barris, em 1975, para
mais de 1 milhão, em 1998. Em poucos
anos, com a abertura dos campos de
Roncador, produziremos mais 200
mil barris por dia.
Nada disso seria impressionante se
as facilidades de extração de petróleo
no Brasil fossem correspondentes às
do Oriente Médio, onde o ouro negro
está praticamente na superfície da terra ou após lâminas d'água de 200 metros. No Brasil, a natureza nos obriga
a mergulhar fundo no mar e a montar
plataformas e poços que custam perto
de US$ 1 bilhão para extrair 100 mil
barris por dia.
A engenharia brasileira está de parabéns. Cerca de 70% do nosso petróleo
vem do mar. Os que ali laboram merecem o nosso respeito. São pessoas
que trabalham em cima de um engenho de alta tecnologia durante 15 dias
seguidos, isolados no mar, e com a
enorme responsabilidade de garantir
fornecimento, segurança, limpeza e
proteção ecológica.
Gostei muito do que vi. Se as condições de acesso não fossem tão difíceis,
seria tentado a sugerir que todas as
nossas crianças e adolescentes passassem por lá para testemunhar o talento
dos nossos pesquisadores e a garra
dos nossos trabalhadores. Foi pena
que, na recente visita do presidente
Clinton ao Brasil, o cerimonial tenha
preferido levá-lo à escola de samba da
Mangueira em lugar de conduzi-lo à
bacia de Campos, para ali constatar
um pouco da competência brasileira.
Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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