São Paulo, segunda-feira, 30 de setembro de 2002

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DESAFIO LIBERAL

A eleição de George W. Bush para a Presidência dos EUA marcou o avanço de idéias conservadoras. No plano interno, Bush vem procurando contentar a chamada direita religiosa. Entre outras medidas, o presidente retirou apoio financeiro a entidades que promovem o aborto e redirecionou verbas federais de prevenção à Aids para programas que incentivam a abstinência sexual.
Mas seria um equívoco acreditar que os liberais se renderam a Bush. Na semana passada, a Califórnia aprovou uma lei que desafia as diretrizes federais para a questão da clonagem. O Estado autorizou cientistas a clonar embriões humanos para obter células-tronco, isto é, capazes de transformar-se em qualquer tipo de tecido. Acredita-se que esse tipo de pesquisa poderá trazer a cura de muitas doenças, mas conservadores se opõem a ela porque implicam a destruição de embriões humanos.
Embora Bush já tenha dito que apoiará iniciativas legais que vedem todos os tipos de clonagem, a legislação federal em vigor não a proíbe. O que existe é uma resolução presidencial que restringe a utilização de verbas federais nesse tipo de investigação. Como as pesquisas estão em fase inicial, sem perspectivas de gerar aplicações rentáveis, as restrições orçamentárias são quase proibitivas.
Não se sabe o que aconteceria se os legisladores federais aprovarem lei que proíba a clonagem terapêutica. A legislação federal em princípio prevalece sobre a estadual. Mas, como, no caso, o diploma californiano é anterior à regulamentação federal, há espaço para controvérsias. O sentido da iniciativa californiana é político. Ao aprovar a lei, o Estado mais rico e populoso dos EUA proclama ser legítima a pesquisa com células-tronco embrionárias e convida pesquisadores a realizá-la em seu território.
É uma atitude que, espera-se, possa inspirar legisladores do Brasil, onde a clonagem terapêutica está proibida por força de uma lei de 1995, a Lei de Biossegurança, que não foi devidamente debatida com a sociedade.


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