São Paulo, segunda-feira, 30 de setembro de 2002

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VINICIUS TORRES FREIRE

Mentiras malditas e estatísticas

SÃO PAULO - Num modesto esforço para o bem da verdade histórica sobre o medonho destino das finanças do país nestas últimas semanas, seria bom dizer aos cidadãos honestos e prestantes que:
1. A política vulgar, para não dizer a desonestidade intelectual deste governo que ora se encerra, tem se pautado pela propaganda da idéia de que a eleição é a causa maior da ameaça de desastre financeiro. Não é verdade. Não toda;
2. Considere o efeito do desastre do racionamento em 2001. Os juros básicos subiram de 15,25% para 19% em cinco meses. Antes que o raio da incompetência elétrica nos caísse sobre a cabeça, previa-se que a economia iria crescer 4,5% em 2001. Cresceu 1,5%. A dívida pública, por causa disso tudo, cresceu de 50% para 55% do PIB. Quanto mais alta a dívida, mais cresce a desconfiança do mercado no país, o que faz o dólar subir, a dívida crescer mais, assim por diante;
3. Considere a política do bumba-meu-boi do governo. Este governo se diz campeão da responsabilidade fiscal e do crescimento sustentando. Mas nos quatro anos anteriores a FHC, o governo equilibrava despesa e receita, sem contar juros. Nos primeiro governo FHC, o gasto e a dívida explodiram a fim de financiar uma bolha de consumo. A prudência só começou em 1999, depois da primeira quebra do país do Real;
4. O primeiro governo FHC ria de quem dizia que era preciso exportar mais para equilibrar as contas externas do país. Em vez disso, davam juros altos para atrair dólares, o que fez mais dívida. Agora, o governo festeja a alta das exportações, que cresceram à custa de desemprego e de um dólar alucinado (e dólar muito alto faz a dívida pública crescer);
5. Este governo deixou ao mercado decidir muitas coisas, tais como o investimento em energia (que não houve, o que se explica também pelas privatizações porcas da era FHC). Agora, o mercado é ignaro, diz Malan.
Toda essa bobajada ajudou a dívida pública a mais do que dobrar nos anos FHC. A incerteza causada pela eleição foi só a cereja no alto do bolo envenenado de uma farra financeira.


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