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VINICIUS TORRES FREIRE
Mentiras malditas e estatísticas
SÃO PAULO - Num modesto esforço para o bem da verdade histórica sobre o medonho destino das finanças
do país nestas últimas semanas, seria
bom dizer aos cidadãos honestos e
prestantes que:
1. A política vulgar, para não dizer
a desonestidade intelectual deste governo que ora se encerra, tem se pautado pela propaganda da idéia de
que a eleição é a causa maior da
ameaça de desastre financeiro. Não é
verdade. Não toda;
2. Considere o efeito do desastre do
racionamento em 2001. Os juros básicos subiram de 15,25% para 19% em
cinco meses. Antes que o raio da incompetência elétrica nos caísse sobre
a cabeça, previa-se que a economia
iria crescer 4,5% em 2001. Cresceu
1,5%. A dívida pública, por causa disso tudo, cresceu de 50% para 55% do
PIB. Quanto mais alta a dívida, mais
cresce a desconfiança do mercado no
país, o que faz o dólar subir, a dívida
crescer mais, assim por diante;
3. Considere a política do bumba-meu-boi do governo. Este governo se
diz campeão da responsabilidade fiscal e do crescimento sustentando.
Mas nos quatro anos anteriores a
FHC, o governo equilibrava despesa e
receita, sem contar juros. Nos primeiro governo FHC, o gasto e a dívida
explodiram a fim de financiar uma
bolha de consumo. A prudência só
começou em 1999, depois da primeira
quebra do país do Real;
4. O primeiro governo FHC ria de
quem dizia que era preciso exportar
mais para equilibrar as contas externas do país. Em vez disso, davam juros altos para atrair dólares, o que fez
mais dívida. Agora, o governo festeja
a alta das exportações, que cresceram
à custa de desemprego e de um dólar
alucinado (e dólar muito alto faz a
dívida pública crescer);
5. Este governo deixou ao mercado
decidir muitas coisas, tais como o investimento em energia (que não houve, o que se explica também pelas privatizações porcas da era FHC). Agora, o mercado é ignaro, diz Malan.
Toda essa bobajada ajudou a dívida pública a mais do que dobrar nos
anos FHC. A incerteza causada pela
eleição foi só a cereja no alto do bolo
envenenado de uma farra financeira.
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