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CLÓVIS ROSSI
Nasceu, presidente
SÃO PAULO - Se for para levar ao pé da letra as metáforas do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, então seu
governo acaba de nascer. Já se foram
nove meses desde a posse.
É verdade que o presidente insiste
em que todos tenham paciência porque nascer não basta. Leva um tempo xis para andar e para começar a
falar. Ainda assim, seria de supor que
o bebê tivesse uma cara definida, um
DNA reconhecível, o joelho com forma de joelho e assim por diante.
Nada disso dá para dizer sobre o
governo Lula. Ele próprio já afirmou
que a política econômica em vigor
não é a dos seus sonhos nem a dos sonhos do ministro Palocci . Como a
política econômica condiciona todas
as demais, fica-se sem saber, portanto, com que bebê sonham Lula e Palocci, seu principal ministro.
À primeira vista, o bebê recusa-se a
deixar a posição fetal, como se estivesse se defendendo de algo, talvez da
"herança maldita".
O diabo é que, quanto mais tempo
passa desde o fim do governo anterior, ela se torna menos herança e
mais maldita.
O bebê não nasce virgem, para
quem valoriza esse aspecto. Um dos
seus muitos pais, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha, admite,
com a sem-cerimônia dos novos-ricos, que se pratica, sim, fisiologia na
gestão petista. Ressalva que ela é "residual". Então, tá. É como virgindade
residual. A criança vem ao mundo no
instante em que a "parentaiada" se
envolve em uma discussão sobre como deveria ser a sua cara. Uns divergem fortemente dos que estão mais
próximos da rica manjedoura em
que nasceu o bebê e, por isso, são
ameaçados de expulsão.
Outros divergem menos ruidosamente. Parecem preferir esperar que
uma plástica precoce devolva ao bebê
a fisionomia com a qual sonharam.
Tudo somado, dá para chamar o
bebê de uma criança do PT? Só na
propaganda de Duda Mendonça,
mestre na arte de usar crianças no
marketing político. Para quem vê de
longe, parece apenas um bebê igual
aos muitos que a República pariu.
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