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VALDO CRUZ
Barriga cheia
BRASÍLIA - Nove meses de governo e mais uma virtude do PT vai escorrendo pelo ralo. Eternos críticos do
troca-troca partidário, os petistas
agora se beneficiam do mesmo processo que tanto atacaram para criar
uma base aliada no Congresso.
Dirão os petistas que seu partido
não engordou. Manteve-se puro -se
é que algo pode ser puro no mundo
da política. Mas é apenas uma desculpa oficial. Sob o comando do Planalto, partidos aliados incharam. Os
da oposição foram desidratados.
Mais uma vez, a força gravitacional
do Planalto -verbas e cargos-
exerceu forte poder de atração. O governo Lula não tinha outra saída.
Eleito sem base forte no Congresso,
precisava dela para governar. Foi a
campo, sem escrúpulos.
Salvaram-se da ação predatória do
Planalto apenas aqueles que se renderam. Foi o caso do PMDB, que correu para os braços de Lula. E do PP,
que virou um "aliado crítico".
PSDB e PFL, que se mantêm na
oposição e não têm outro caminho a
tomar, sofreram com o canibalismo
palaciano. Os tucanos e pefelistas
perderam quase 20 deputados cada
um. Parlamentares que não sabem
viver longe do governo.
Distorções de uma legislação política, que enfraquece em vez de fortalecer os partidos. Fracos, não conseguem manter uma unidade partidária, favorecendo as negociações no
varejo, quando se trocam votos até
por migalhas federais.
Quando na oposição, os petistas
chegaram a articular com o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, a aprovação de uma reforma política que
pudesse fortalecer os partidos, reduzindo o troca-troca de legendas.
No poder, até aqui não mexeram
palha em nome dela. Talvez agora,
depois de construírem uma maioria
ao velho estilo, possam posar de virtuosos e pregar a importância de
uma reforma política.
Bornhausen não acredita. Apesar
de ter ouvido que José Dirceu deu sinal verde, aposta que o governo vai
empurrar a reforma com a barriga.
Até que ela esteja cheia -de deputados e de senadores governistas.
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