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São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2003

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VALDO CRUZ

Barriga cheia

BRASÍLIA - Nove meses de governo e mais uma virtude do PT vai escorrendo pelo ralo. Eternos críticos do troca-troca partidário, os petistas agora se beneficiam do mesmo processo que tanto atacaram para criar uma base aliada no Congresso.
Dirão os petistas que seu partido não engordou. Manteve-se puro -se é que algo pode ser puro no mundo da política. Mas é apenas uma desculpa oficial. Sob o comando do Planalto, partidos aliados incharam. Os da oposição foram desidratados.
Mais uma vez, a força gravitacional do Planalto -verbas e cargos- exerceu forte poder de atração. O governo Lula não tinha outra saída. Eleito sem base forte no Congresso, precisava dela para governar. Foi a campo, sem escrúpulos.
Salvaram-se da ação predatória do Planalto apenas aqueles que se renderam. Foi o caso do PMDB, que correu para os braços de Lula. E do PP, que virou um "aliado crítico".
PSDB e PFL, que se mantêm na oposição e não têm outro caminho a tomar, sofreram com o canibalismo palaciano. Os tucanos e pefelistas perderam quase 20 deputados cada um. Parlamentares que não sabem viver longe do governo.
Distorções de uma legislação política, que enfraquece em vez de fortalecer os partidos. Fracos, não conseguem manter uma unidade partidária, favorecendo as negociações no varejo, quando se trocam votos até por migalhas federais.
Quando na oposição, os petistas chegaram a articular com o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, a aprovação de uma reforma política que pudesse fortalecer os partidos, reduzindo o troca-troca de legendas.
No poder, até aqui não mexeram palha em nome dela. Talvez agora, depois de construírem uma maioria ao velho estilo, possam posar de virtuosos e pregar a importância de uma reforma política.
Bornhausen não acredita. Apesar de ter ouvido que José Dirceu deu sinal verde, aposta que o governo vai empurrar a reforma com a barriga. Até que ela esteja cheia -de deputados e de senadores governistas.


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