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VIOLÊNCIA POLICIAL
São gravíssimas as suspeitas
que pesam contra a Polícia Civil
do Rio de Janeiro. Embora ainda seja
cedo para afirmá-lo de modo peremptório, há forte sugestão de que
membros do Core -tropa de elite
das forças fluminenses- assassinaram dois jovens a sangue-frio.
Os indícios são materiais. Um fotógrafo de "O Dia" que se encontrava
em helicóptero do próprio Core
(Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil) fez imagens em
que Luciano Custódio Sales, 24, e
Charles Machado Silva, 16, aparecem
rendidos pelos policiais. Momentos
depois, novas fotografias mostram
os jovens mortos sendo carregados.
À evidência física, a polícia contrapõe uma história mirabolante, segundo a qual um tiroteio iniciado
por traficantes do morro da Providência logo após a rendição teria
possibilitado a fuga dos suspeitos
que, em seguida, se teriam armado e
disparado contra os agentes da lei,
que, por sua vez, teriam respondido
ao fogo. Não há por ora elementos
concretos para descartar essa versão,
mas o saudável ceticismo recomenda desconfiar dela.
De resto, todo mundo sabe que a
violência policial é uma lamentável
constante no país. Isso não significa,
é claro, que a violência dos criminosos seja menor ou mais tolerável. O
fato é que seria ridículo cobrar que
bandidos atuem dentro da lei. Já em
relação aos agentes da ordem, é um
dever exigir-lhes conduta proba.
Para agravar ainda mais o quadro,
parece haver por parte da opinião pública uma aprovação à truculência
policial. É exemplar a esse respeito a
absolvição, em 2002, por júri popular, dos policiais fluminenses acusados de matar o seqüestrador do ônibus 174 depois que ele havia sido
capturado e colocado num camburão. O Ministério Público recorreu da
decisão, e o processo subiu para o
Tribunal de Justiça. Fica, porém, a
mensagem -inadmissível num Estado de Direito- de que a sociedade
autoriza policiais a matar todos
aqueles que eles julguem ser criminosos -sem defesa e sem juiz, apenas com carrascos.
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