São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2004

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VIOLÊNCIA POLICIAL

São gravíssimas as suspeitas que pesam contra a Polícia Civil do Rio de Janeiro. Embora ainda seja cedo para afirmá-lo de modo peremptório, há forte sugestão de que membros do Core -tropa de elite das forças fluminenses- assassinaram dois jovens a sangue-frio.
Os indícios são materiais. Um fotógrafo de "O Dia" que se encontrava em helicóptero do próprio Core (Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil) fez imagens em que Luciano Custódio Sales, 24, e Charles Machado Silva, 16, aparecem rendidos pelos policiais. Momentos depois, novas fotografias mostram os jovens mortos sendo carregados.
À evidência física, a polícia contrapõe uma história mirabolante, segundo a qual um tiroteio iniciado por traficantes do morro da Providência logo após a rendição teria possibilitado a fuga dos suspeitos que, em seguida, se teriam armado e disparado contra os agentes da lei, que, por sua vez, teriam respondido ao fogo. Não há por ora elementos concretos para descartar essa versão, mas o saudável ceticismo recomenda desconfiar dela.
De resto, todo mundo sabe que a violência policial é uma lamentável constante no país. Isso não significa, é claro, que a violência dos criminosos seja menor ou mais tolerável. O fato é que seria ridículo cobrar que bandidos atuem dentro da lei. Já em relação aos agentes da ordem, é um dever exigir-lhes conduta proba.
Para agravar ainda mais o quadro, parece haver por parte da opinião pública uma aprovação à truculência policial. É exemplar a esse respeito a absolvição, em 2002, por júri popular, dos policiais fluminenses acusados de matar o seqüestrador do ônibus 174 depois que ele havia sido capturado e colocado num camburão. O Ministério Público recorreu da decisão, e o processo subiu para o Tribunal de Justiça. Fica, porém, a mensagem -inadmissível num Estado de Direito- de que a sociedade autoriza policiais a matar todos aqueles que eles julguem ser criminosos -sem defesa e sem juiz, apenas com carrascos.


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