São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

O mundo bipolar brasileiro

BRASÍLIA - A polarização PT-PSDB na eleição paulistana é parte de um movimento que vai além do município, do Estado onde os dois partidos nasceram e da própria política partidária. Nem as entidades empresariais paulistas escaparam.
E, como no caso dos dois partidos, também nas entidades os "petistas" e os "tucanos" disputam e se criticam, mas ninguém sabe exatamente qual a diferença real entre eles. Todos têm uma política de apoio e rejeição à política de juros e superávits primários altos, mas não foi o PSDB que as fez e o PT que as manteve?
Lula já tinha conversado com Paulo Skaf, da Fiesp -a federação das indústrias de SP, que reúne 40% do PIB nacional e é eleita por sindicatos. Ontem, ele e José Dirceu (que, aliás, nem é da área empresarial nem da econômica) recepcionaram por 55 minutos Cláudio Vaz, do Ciesp, o centro dos empresários de SP, eleito pelos empresários diretamente.
Skaf é tido e havido como aliado de Lula, do PT e das candidaturas de Marta Suplicy à reeleição e do petista Aloizio Mercadante para o governo do Estado em 2006. Vaz é considerado amigão dos tucanos, do governador Geraldo Alckmin e das candidaturas de José Serra para a prefeitura e de José Aníbal (que hoje disputa uma vaga de vereador) para o governo.
Lula tentou, pois, dar uma no prego e outra na ferradura. A do prego para consolidar os elos com Skaf, e a da ferradura para não deixar Vaz se afastar muito do Planalto e, de quebra, dos interesses eleitorais do PT.
O "petista" Skaf e o "tucano" Vaz têm lá divergências, mas também há convergências. Vaz: "Política de austeridade não pode ser à custa da política de crescimento". Mais: "A perspectiva de crescimento é pautada para exportações. Juros altos com superávit primário alto sufocam o mercado interno". Skaf discorda?
Só falta a polarização PT-PSDB se estender para os sindicatos de trabalhadores, onde o PT ainda ganha mole. Mas eleitores, patrões e empregados vão continuar sem entender o essencial: qual é mesmo a diferença?


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