|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
O mundo bipolar brasileiro
BRASÍLIA - A polarização PT-PSDB na eleição paulistana é parte de um
movimento que vai além do município, do Estado onde os dois partidos
nasceram e da própria política partidária. Nem as entidades empresariais paulistas escaparam.
E, como no caso dos dois partidos,
também nas entidades os "petistas" e
os "tucanos" disputam e se criticam,
mas ninguém sabe exatamente qual
a diferença real entre eles. Todos têm
uma política de apoio e rejeição à política de juros e superávits primários
altos, mas não foi o PSDB que as fez e
o PT que as manteve?
Lula já tinha conversado com Paulo Skaf, da Fiesp -a federação das
indústrias de SP, que reúne 40% do
PIB nacional e é eleita por sindicatos.
Ontem, ele e José Dirceu (que, aliás,
nem é da área empresarial nem da
econômica) recepcionaram por 55
minutos Cláudio Vaz, do Ciesp, o
centro dos empresários de SP, eleito
pelos empresários diretamente.
Skaf é tido e havido como aliado de
Lula, do PT e das candidaturas de
Marta Suplicy à reeleição e do petista
Aloizio Mercadante para o governo
do Estado em 2006. Vaz é considerado amigão dos tucanos, do governador Geraldo Alckmin e das candidaturas de José Serra para a prefeitura e
de José Aníbal (que hoje disputa uma
vaga de vereador) para o governo.
Lula tentou, pois, dar uma no prego
e outra na ferradura. A do prego para
consolidar os elos com Skaf, e a da
ferradura para não deixar Vaz se
afastar muito do Planalto e, de quebra, dos interesses eleitorais do PT.
O "petista" Skaf e o "tucano" Vaz
têm lá divergências, mas também há
convergências. Vaz: "Política de austeridade não pode ser à custa da política de crescimento". Mais: "A perspectiva de crescimento é pautada para exportações. Juros altos com superávit primário alto sufocam o mercado interno". Skaf discorda?
Só falta a polarização PT-PSDB se
estender para os sindicatos de trabalhadores, onde o PT ainda ganha
mole. Mas eleitores, patrões e empregados vão continuar sem entender o
essencial: qual é mesmo a diferença?
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Brasil, Iraque, Haiti Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Ode aos vencidos Índice
|