São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

O tamanho do aperto

BRASÍLIA - Primeiro, Lula disse que a crise americana era "quase imperceptível no Brasil". Passados uns dias, falou que o Brasil estava "muito tranqüilo para enfrentar a situação". Agora, já muda a agenda e o tom, admitindo "algum aperto", apesar de "muito pequeno".
E ele falou isso antes que a bomba explodisse e os estilhaços chegassem ao Brasil. O Congresso dos EUA deu de ombros ao pacote anticrise de Bush -como, de resto, os congressos costumam desdenhar pacotes, programas ou projetos de presidentes em fim de mandato.
Ainda mais de um como Bush. As Bolsas entraram em queda livre. A de São Paulo se esborrachou, e o dólar deu um salto de 6%. O "aperto" chegou. Não é "imperceptível", certamente não será "muito pequeno", ninguém mais está "tranqüilo". E o que mais assusta é que nem governo, nem empresas, nem economistas de qualquer tendência conseguem projetar o que vem por aí.
Henrique Meirelles, aliás, reagiu menos como presidente do Banco Central e mais como cidadão curioso, perplexo e, sobretudo, impotente. Ao saber das novidades, declarou: "Acabamos de ter mais uma surpresa". E se gabou: "Fizemos bem em não fazer previsões!".
Ficamos assim: o presidente da República não tem dimensão do que está acontecendo, o do BC nem sequer traça cenários, o ministro da Fazenda convoca reuniões para dividir prejuízos e o do Planejamento fala, fala e não diz nada.
Nessa barafunda, o repórter Gustavo Patu, da Folha, tentou tranqüilizar quem aplica em ações: "Quando a Bolsa cai, os imóveis sobem, fica um pelo outro". Quem não tem imóveis? Bem, é arrancar os cabelos e conviver com a ladainha da "paciência, daqui a dois anos fica tudo uma maravilha de novo".
E o pior não é para quem tem (aplicações e imóveis), é para quem não tem. A perspectiva é de menos crescimento, emprego e renda. Um aperto daqueles.

elianec@uol.com.br


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