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ELIANE CANTANHÊDE
O tamanho do aperto
BRASÍLIA - Primeiro, Lula disse
que a crise americana era "quase
imperceptível no Brasil". Passados
uns dias, falou que o Brasil estava
"muito tranqüilo para enfrentar a
situação". Agora, já muda a agenda
e o tom, admitindo "algum aperto",
apesar de "muito pequeno".
E ele falou isso antes que a bomba
explodisse e os estilhaços chegassem ao Brasil. O Congresso dos
EUA deu de ombros ao pacote anticrise de Bush -como, de resto, os
congressos costumam desdenhar
pacotes, programas ou projetos de
presidentes em fim de mandato.
Ainda mais de um como Bush. As
Bolsas entraram em queda livre. A
de São Paulo se esborrachou, e o dólar deu um salto de 6%.
O "aperto" chegou. Não é "imperceptível", certamente não será
"muito pequeno", ninguém mais
está "tranqüilo". E o que mais assusta é que nem governo, nem empresas, nem economistas de qualquer tendência conseguem projetar
o que vem por aí.
Henrique Meirelles, aliás, reagiu
menos como presidente do Banco
Central e mais como cidadão curioso, perplexo e, sobretudo, impotente. Ao saber das novidades, declarou: "Acabamos de ter mais uma
surpresa". E se gabou: "Fizemos
bem em não fazer previsões!".
Ficamos assim: o presidente da
República não tem dimensão do
que está acontecendo, o do BC nem
sequer traça cenários, o ministro da
Fazenda convoca reuniões para dividir prejuízos e o do Planejamento
fala, fala e não diz nada.
Nessa barafunda, o repórter Gustavo Patu, da Folha, tentou tranqüilizar quem aplica em ações:
"Quando a Bolsa cai, os imóveis sobem, fica um pelo outro". Quem
não tem imóveis? Bem, é arrancar
os cabelos e conviver com a ladainha da "paciência, daqui a dois anos
fica tudo uma maravilha de novo".
E o pior não é para quem tem
(aplicações e imóveis), é para quem
não tem. A perspectiva é de menos
crescimento, emprego e renda. Um
aperto daqueles.
elianec@uol.com.br
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