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ANTONIO DELFIM NETTO
De mendicante
a senhor
A AGRICULTURA (o chamado
agronegócio) é um dos setores mais competitivos da
economia brasileira. Foi graças ao
seu superavit comercial que o Brasil livrou-se da armadilha externa
em que se encontrava. Ao longo
dos últimos 15 anos a política agrícola tem sofrido altos e baixos, mas
a tendência tem sido de melhoria
continuada. Infelizmente, a segurança jurídica do setor tem sido
frequentemente ameaçada. Os
problemas fundamentais da criação de um seguro de safra e de instrumentos que permitam a defesa
dos preços nos mercados futuros
(e, assim, dar estabilidade de "renda") têm sofrido alguns percalços.
Por outro lado, o problema da dívida, numa larga medida construído
pelas "idas e vindas" do oportunismo governamental no uso político
do setor, persiste e ainda não foi resolvido. O progresso da agricultura
é produto de gente trabalhadora
extremamente sofrida, de uma
classe empresarial que acreditou
no governo e viu o "ajuste" (a partir
do Plano Real) fazer-se sobre o seu
patrimônio. É produto também do
suporte do maior instrumento de
políticas públicas deste país, que é
o Banco do Brasil, e dos investimentos acumulados desde o início
dos anos 70 na Embrapa.
O agronegócio tem sido mais recentemente estressado: 1º) pela
centralização das decisões da política ambiental; 2º) pelo estímulo
que se dá às organizações não-governamentais (que recebem subsídios escondidos dos governos brasileiro e estrangeiros), que perturbam os mecanismos da própria reforma agrária; e 3º) pela construção de duvidosíssimos "índices de
produtividade". Ninguém pode ser
contra a política de preservar (e
melhorar!) o meio ambiente, mas
ninguém pode ignorar que é impossível uma política "centralizada" para um país de 8,5 milhões de
quilômetros quadrados e dominado por vários biomas. Ninguém defende a extinção das ONGs, mas
não se pode admitir que o "não-governamental" se sustente, direta
ou indiretamente, de "governos"
(nacional ou estrangeiros). Ninguém pode ser contra o estabelecimento de "índices mínimos de produtividade", mas não se pode ignorar a imprecisão do conceito e o risco de seu uso político.
A introdução do instituto da reeleição sem desincompatibilização,
num país onde não existe controle
social, está construindo um sistema onde todo o poder de eleger a
Câmara e o Senado caminha para
os grupos locais que controlam os
prefeitos. Um dia isso será entendido. Quando isso acontecer eles não
irão a Brasília como mendicantes
perante o Poder Executivo. Eles
irão para promover reformas constitucionais para tomar-lhe o poder...
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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