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VINICIUS TORRES FREIRE
Os muito vivos e os mortos
SÃO PAULO - Pela primeira vez na
história, a economia do Brasil cresceria mais que a inflação, dizia Pedro
Malan, ministro da Fazenda de FHC,
no início de 2001. Não cresceu nada.
A profecia malparada de Malan parecia o último prego do caixão de um
jeito de fazer política econômica. Mas
o governo exumou o cadáver.
Antes que gralhas, corvos e abutres
do mercado grasnem: outra política
econômica não significa "fora FMI",
governo gastar à matroca ou juro
baixo em qualquer situação.
O estilo FHC-Malan conjugou intervenção errada no mercado (no
câmbio) a negligência com ares liberais (privatização inepta, ausência
de política comercial), incompetência
crassa (apagão), irresponsabilidade
fiscal e incapacidade de negociar reformas que dizia essenciais. Nem se
mencionem políticas para desenvolver regiões e pessoas pobres.
Os economistas de Lula congratulam-se por terem calibrado variáveis
básicas -gasto público, inflação, juros etc. Parecem avaliar que o país
irá crescer sem mais desde que mantida tal calibragem e aprovado o
"marco regulatório" (leis que regem
o investimento privado). Repetem o
franquismo-malanismo de épocas de
calmaria. De resto, a calibragem ainda é ruim -vide os juros.
Mas quede a política comercial? A
falação sobre "soberania" na Alca
não é política comercial. É só política.
Qual a política de investimento do
BNDES? Nem capitalizado o banco
está. Qual é a política para incorporar regiões pobres ao mercado? Como
crescer se o governo rapa verbas de
ciência e tecnologia? Se nem política
de educação tem?
Não convinha rever o sistema de
metas de inflação em período de crise. Mas tal modelo serve ao país? O
BC não tem autonomia demais para
uma agência que quase não presta
contas, com sua estrutura política e
administrativa tão minguada e politicamente tendenciosa?
No Planalto, começa a festa do "fim
da crise". O cadáver dos anos FHC
brinda com Lula e ministros. "Na minha pátria,/ onde os mortos caminhavam/ e os vivos eram feitos de papelão" (cortesia de Ezra Pound).
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