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ELIANE CANTANHÊDE
Um dia atrás do outro
BRASÍLIA - Marina Silva (Meio Ambiente) estava feliz da vida ontem
com o projeto do governo para os
transgênicos e para a CTNBio (a comissão de biossegurança).
Depois de noites em claro, uma crise de desidratação na sexta-feira e
muitos embates dentro do próprio
governo, Marina confidenciou a assessores que tinha valido a pena.
A questão, porém, é que ganhar
uma batalha não significa ganhar
uma guerra. E a guerra está apenas
começando, como deixa clara a reportagem de Kennedy Alencar na
Folha de hoje: o governo acatou a argumentação de Marina na proposta,
mas deve estimular por baixo do pano as mudanças pragmáticas que o
Congresso deve fazer. Com a ajuda
da bancada ruralista, frise-se.
A alegria de Marina pode durar
pouco, mas ontem fazia sentido. O
projeto, em resumo: 1) preserva as
competências de licenciamento, fiscalização e controle dos ministérios
do Meio Ambiente, Saúde e Agricultura; 2) parecer da CTNBio pela liberação de transgênicos dependerá do
crivo das áreas afins; 3) o conselho de
ministros que vai analisar a questão
estrategicamente não poderá passar
por cima do MMA.
Ou seja: Marina e sua equipe estão
convencidos de que estarão acima da
CTNBio e não poderão ser "derrubados" pelo conselho. "A competência
constitucional está preservada. Só
pode haver liberação com licenciamento do ministério, via Ibama", diz
o secretário de Biodiversidade e Floresta, João Paulo Capobianco.
Agora, é conferir como tudo isso
evolui no governo e no Congresso.
Em tese, o MMA tem um olhar apenas ambiental, enquanto o conselho
terá de cruzar interesses ambientais,
econômicos, tecnológicos, comerciais. Dá para o primeiro ter mais poder de decisão do que o segundo?
Com um detalhe: o chefão do conselho será... José Dirceu, aquele ministro que anda bem amiguinho de
Marina e das causas ambientalistas,
mas adora decidir tudo e tem sido
um pragmático por excelência. Tal e
qual, aliás, o próprio governo do PT.
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