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FERNANDO DE BARROS E SILVA
De novo, mas sem ilusões
SÃO PAULO - Haverá de novo, a
despeito de tudo, uma legião de incautos que insistirá em ver na reeleição de Lula a marca da renovação
da esperança ou coisas do gênero.
Apesar da votação expressiva e da
diferença em relação ao rival tucano tão semelhante à de 2002, é outro, bem distinto, o significado que
a vitória de agora suscita.
Se não há mais medo, também
não deve haver mais ilusões.
O que esperar então do segundo
mandato? Para além das fantasias
sentimentais, pouco, mais do mesmo, quase nada. "Desenvolvimentismo"? Cada um é livre para acreditar no que quiser. A expressão,
que agora volta a ser usada como
"Abre-te Sésamo!" do crescimento
econômico, já tem sua equivalência
na esfera da política: a "concertação". Ambas não passam de empolações retóricas, quimeras sem consistência e lastro na vida real.
Contra o palavrório oficial do segundo mandato, sai ganhando
quem apostar no "inercialismo", isto é, que Lula seguirá conservador
como sempre foi no manejo da política econômica. Seria preciso que
tivesse convicção mais firme e mais
clareza do que fazer para agir de outro modo. Aplica-se agora a Lula o
slogan da campanha petista: não
troque o certo pelo duvidoso.
Tampouco é plausível que as coisas mudem significativamente na
política. Forte de novo e mais enraizado nos grotões do país, o PT está
bem integrado aos desmandos do
sistema político que um dia quis
combater e ao qual, uma vez no poder, deu sua contribuição original.
Terá como parceiro vip o PMDB,
cujas credenciais são conhecidas.
Concentrada num único aliado, que
ocupa o lugar do triunvirato mensaleiro (PL, PTB e PP) do primeiro
tempo, a "governabilidade" assim
construída é garantia de emoções.
PT e PSDB saem das urnas como
entraram, um no governo, o outro
como pólo alternativo de poder em
âmbito nacional. Em 2010, terão
completado 16 anos ininterruptos
no comando do país. Caberá aos sábios do futuro dizer no que nos
transformaram e no que eles próprios foram transformados.
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