São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 2006

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

De novo, mas sem ilusões

SÃO PAULO - Haverá de novo, a despeito de tudo, uma legião de incautos que insistirá em ver na reeleição de Lula a marca da renovação da esperança ou coisas do gênero. Apesar da votação expressiva e da diferença em relação ao rival tucano tão semelhante à de 2002, é outro, bem distinto, o significado que a vitória de agora suscita.
Se não há mais medo, também não deve haver mais ilusões.
O que esperar então do segundo mandato? Para além das fantasias sentimentais, pouco, mais do mesmo, quase nada. "Desenvolvimentismo"? Cada um é livre para acreditar no que quiser. A expressão, que agora volta a ser usada como "Abre-te Sésamo!" do crescimento econômico, já tem sua equivalência na esfera da política: a "concertação". Ambas não passam de empolações retóricas, quimeras sem consistência e lastro na vida real.
Contra o palavrório oficial do segundo mandato, sai ganhando quem apostar no "inercialismo", isto é, que Lula seguirá conservador como sempre foi no manejo da política econômica. Seria preciso que tivesse convicção mais firme e mais clareza do que fazer para agir de outro modo. Aplica-se agora a Lula o slogan da campanha petista: não troque o certo pelo duvidoso.
Tampouco é plausível que as coisas mudem significativamente na política. Forte de novo e mais enraizado nos grotões do país, o PT está bem integrado aos desmandos do sistema político que um dia quis combater e ao qual, uma vez no poder, deu sua contribuição original.
Terá como parceiro vip o PMDB, cujas credenciais são conhecidas. Concentrada num único aliado, que ocupa o lugar do triunvirato mensaleiro (PL, PTB e PP) do primeiro tempo, a "governabilidade" assim construída é garantia de emoções.
PT e PSDB saem das urnas como entraram, um no governo, o outro como pólo alternativo de poder em âmbito nacional. Em 2010, terão completado 16 anos ininterruptos no comando do país. Caberá aos sábios do futuro dizer no que nos transformaram e no que eles próprios foram transformados.


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