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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Lobato na terra dos "noias"
SÃO PAULO - Ícone da ditadura e
do malufismo, o elevado Costa e Silva -ou Minhocão- é um marco
histórico da predação urbana feita
em nome do progresso da cidade.
Inaugurado em 1971, o viaduto de
ligação entre as zonas leste e oeste
de São Paulo foi responsável pela
destruição linear de quatro bairros,
incluindo parte do centro. Não existiria obra capaz de exprimir melhor
o perfil de uma metrópole que vive
em permanente fuga dos escombros que ela não cessa de produzir.
É de ruína, social e urbana, que se
alimenta há décadas a cracolândia,
região próxima do Minhocão especialmente degradada, onde se aglomeram os chamados "noias".
São Paulo já havia exportado o
crack para o resto do país -hoje,
um drama nacional. Há três meses,
desde que a polícia iniciou a Ação
Integrada Centro Legal, a cracolândia também começou a exportar
seus "noias" para ruas e bairros da
vizinhança. Ontem, na hora do almoço, vários deles estavam empilhados, literalmente, na entrada do
metrô da República. Outros andavam feito zumbis ao redor do edifício Copan, símbolo de uma modernidade que a cidade atropelou.
Da Luz ao largo do Arouche, de
Higienópolis ao miolo da cidade,
passando por Santa Cecília e Campos Elíseos, os "noias" vão se tornando parte da paisagem -ou da
terra devastada. Fuçam lixo, pedem
esmolas, agridem pessoas e cometem pequenos delitos para bancar o
vício. Ninguém sabe bem o que fazer nem como reagir.
Os "noias" são os autênticos
mensageiros da Nova Luz -nome
do projeto de revitalização da região que patina desde 2005, quando
José Serra ainda era prefeito.
A Folha mostrou anteontem a situação de abandono do tradicional
liceu dos padres salesianos, ilhado
no quadrilátero do crack -e ontem,
neste espaço, Clóvis Rossi fez um
belo texto a respeito. O título da reportagem era histórico: "Escola de
Monteiro Lobato definha na cracolândia". O criador de Emília e Narizinho sucumbiu à terra dos "noias".
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