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Muy amigos...
Tensões diplomáticas e conflitos internos se alastram pela América do Sul e requerem mudança de atitude do Brasil
SERIA EXAGERO afirmar que
a América do Sul vive
uma situação de crise política generalizada, mas é
inegável reconhecer que emergem sinais preocupantes de todos os pontos do subcontinente.
A troca de agressões verbais
entre os presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Álvaro Uribe, da Colômbia, é apenas o mais
recente numa série de lances adversos. A animosidade em alta
testa a capacidade do Brasil de
exercer a liderança regional acalentada por sua diplomacia.
Além do novo entrevero entre
Chávez e Uribe, continuam às
turras o presidente argentino,
Néstor Kirchner, e seu homólogo uruguaio, Tabaré Vázquez. O
motivo da disputa é a instalação
de fábricas de celulose na porção
do rio Uruguai pertencente ao
país vizinho, que Buenos Aires
rejeita a pretexto do impacto
ambiental em seu território.
Em grau bem mais civilizado, o
próprio presidente Luiz Inácio
Lula da Silva nutre desentendimentos com o colega paraguaio,
Nicanor Duarte, por conta de desacordos acerca de Itaipu.
As dificuldades não estão restritas a disputas de egos. Há também situações de risco político
concreto, como a da Bolívia, que
flerta com a secessão. Na Venezuela, a escalada autoritária do
chavismo eleva os riscos de um
desfecho violento.
Acrescentem-se a tudo isso
disputas de fronteira às vezes
centenárias entre países num
contexto em que a Venezuela
amplia seus gastos militares e
anuncia um projeto de construção de usinas nucleares. Caracas
tem questões fronteiriças não
resolvidas com a Colômbia e com
a Guiana.
Há outra fonte potencial de
instabilidade comum a vários
países. Chávez e seu aliado Evo
Morales, da Bolívia, não são os
únicos a planejar alterações
constitucionais que lhes permitam estender o período de mando. Partidários de Uribe, na Colômbia, e vozes por ora isoladas
do lulismo, no Brasil, também
acalentam esse projeto.
Habilidade para lidar com cenários multiconflituosos é atributo básico de uma potência regional. Na América do Sul, apenas o Brasil -por suas dimensões econômicas, demográficas e
territoriais- tem condições de
exercer esse papel. Não se trata, é
claro, de impor soluções e pontos
de vista, mas de promover o diálogo e atuar para reduzir danos.
É incrível, por exemplo, que,
convidado a mediar a crise entre
argentinos e uruguaios, o presidente Lula tenha preferido omitir-se. Espantosa, também, foi
sua manifestação a favor do terceiro mandato de Chávez a poucos dias de os venezuelanos decidirem o tema nas urnas.
Liderança não vem por gravidade. Um desenvolvimento regional harmônico exige um Brasil mais atuante, que não tome
partido, mas aja para facilitar soluções. E é bom agir depressa.
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