São Paulo, sexta-feira, 30 de novembro de 2007

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Ladainha em Bali

O ITAMARATY saiu do mutismo de sempre sobre a mudança climática global. Por meio de seu subsecretário de assuntos políticos, Everton Vieira Vargas, revelou a proposta brasileira para a conferência de Bali (Indonésia), que se inicia na segunda-feira: nenhuma. O país não aceita metas de redução de emissões de gases causadores do aquecimento global para países em desenvolvimento. Ponto.
Essa era a posição defendida pelo país e pelo G-77 (grupo de países em desenvolvimento) antes mesmo da Convenção sobre Mudança do Clima, adotada na Eco-92. Serviu para fincar nesse tratado o princípio das responsabilidades comuns porém diferenciadas. Dito de outra maneira: os países que mais contribuíram para agravar o efeito estufa devem também responder por reduções capazes de combatê-lo.
A premissa redundou na adoção de metas obrigatórias, no quadro do Protocolo de Kyoto (1997), só por países desenvolvidos. Na média, eles deveriam cortar 5,2% suas emissões no período 2008-2012. Os EUA, que geram mais de um quinto das emissões mundiais, nunca ratificaram o protocolo e hoje emitem 16% a mais de gases de efeito estufa que em 1990.
Em vários sentidos, Kyoto foi um fracasso. Em Bali começa a discussão de algo para substituí-lo a partir de 2013. O problema é que, em uma década, reforçaram-se de modo acentuado as previsões científicas acerca do impacto do aquecimento global. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, criado pela ONU, para evitar o pior cumpriria cortar pelo menos 50% das emissões até 2050.
A partir dessa projeção, impõe-se uma constatação inapelável: é impossível alcançar tal objetivo sem que China, Índia e Brasil também cortem emissões. O Itamaraty, em lugar de reciclar a ladainha das responsabilidades comuns porém diferenciadas, deveria liderar o G-77 na sua reinterpretação compromissada.
Advogar programas nacionais voluntários sem metas e sem verificação equivale a pedir uma carta-branca para omitir-se. É uma posição inaceitável.


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