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JOSÉ SARNEY
Uma visão do Brasil
NOVA YORK - Pela primeira
vez chego aos EUA -para o
lançamento do meu romance "Saraminda" aqui e para
participar da 7ª Conferência Latino-Americana- e não encontro o
costumeiro catastrofismo de sempre, comum entre gregos e troianos, sobre o Brasil e as desgraças
que pesavam sobre nós. As perguntas que nos fazem, hoje, são diferentes de outrora, e falam surpresos sobre os bons ventos da economia, a profundidade da liderança
do presidente Lula e a tranqüilidade social, sem riscos de ruptura
institucional, em contraste com o
que ocorre com outros países da
América do Sul.
Ressalto os nossos números macroeconômicos. Há cinco anos temos transações correntes positivas
com o exterior, nossa dívida pública externa é de US$ 70 bilhões, valor largamente coberto por uma reserva de US$ 170 bilhões.
Num momento em que energia é
a grande palavra e interrogação sobre o futuro da sociedade industrial, nosso país é auto-suficiente,
sendo que mais de 80% do que consumimos é de fonte renovável. Temos 90% do abastecimento próprio de nosso petróleo, e com a descoberta do campo gigante de Tupi,
na bacia de Santos, passaremos a
ser exportadores. Outro trunfo que
ainda podemos ter em petróleo é
que 90% das nossas bacias sedimentares acumuladoras de hidrocarbonetos ainda não foram pesquisadas. Cito a de Barreirinhas, de
grande extensão, que vai da foz do
rio Parnaíba até o Cabo Norte, na
costa do Amapá.
Temos 300 milhões de hectares
agricultáveis, dos quais já 70 milhões são plantados para a produção de grãos, o que nos assegura
uma liderança mundial nesse setor. Com grande rebanho e os
maiores exportadores de carne, já
utilizamos 90 milhões de hectares
em pasto, e 120 milhões de hectares de pastagens naturais poderão
ser aproveitados para oleaginosas,
matéria-prima do nosso ambicioso
programa de biodiesel e etanol.
Quando me falam do milagre
chinês, coloco um pouco de brasa
na nossa sardinha, chamando a
atenção ao fato de que o Brasil tem
1/6 da população da China, mas já
ostenta a metade do PIB chinês.
Nossa taxa de juros, calcanhar-de-aquiles, está declinante, chegando a 11,25%, e a perspectiva para os próximos anos é de 4% a 5%
de juros reais, com uma inflação
decrescente e baixa, estabilizada
na casa dos 3%.
Nossas instituições políticas estão sólidas, cada vez mais aprofundamos a democracia e o risco Brasil
caiu dramaticamente nos últimos
anos, gerando confiança confirmada nos investimentos externos.
Mas, como nem tudo são flores,
continuamos engasgados com a reforma política, a corrupção e a tragédia da segurança.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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