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NELSON MOTTA
Caras emoções baratas
RIO DE JANEIRO - Por onde andam Darci Vedoin e seus amigos
das ambulâncias? E Zuleido Veras,
sumiu com seu iate na baía de Todos os Santos? E o pobre Freud Godói, que, mesmo inocente, teve que
pedir para sair? E Waldomiro Diniz, réu confesso e ícone histórico
do clePTopetismo? Onde andará
churrascando Lorenzetti? Eles não
telefonam, não escrevem, não dão
notícias, já estamos todos com saudades de suas peraltices.
Este é o pior efeito colateral do
épico pornopolítico de Renan Calheiros, que, durante meses, sugou
todas as atenções para si, deixando
na sombra e no esquecimento os escândalos anteriores. Agora que a
novela está próxima do desfecho e,
como vem acontecendo ultimamente, o vilão será perdoado, o público aguarda ansioso pelo novo escândalo. Já não conseguimos viver
sem eles, estamos dependentes
dessas emoções baratas, inebriados
pelas ilusões de que os crimes estão
sendo descobertos e está sendo feita justiça, acreditando nos paraísos
artificiais em que os criminosos, especialmente os políticos, são presos
e o dinheiro é devolvido.
Os militantes profissionais salivam na internet na expectativa de
revelações, ou mesmo de mentiras,
que levem os adversários ao pelourinho; a mídia corre atrás de carne
fresca para o público ávido de sangue e de vingança; os políticos atingidos multiplicam os seus dossiês
contra adversários, e até contra correligionários, para desviar o foco,
em busca do esquecimento e da
impunidade.
A guerra de lama está virando esporte nacional em nossos dias. Emporcalhados, chafurdando no lodaçal da ideologia, os combatentes só
conseguem dizer: "foi ele que começou" ou "ele roubou e mentiu
mais do que eu". Mas, no final, como sempre na história deste país,
uma mão suja a outra, e salvam-se
todos.
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