São Paulo, quinta-feira, 30 de dezembro de 2004

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LULA OTIMISTA

Entusiasmado com os indicadores econômicos positivos e com a ascensão de sua popularidade nas pesquisas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem demonstrando em seus discursos um otimismo transbordante. Não há oportunidade perdida para auto-elogios, promessas de dias radiantes e anúncio de ótimas perspectivas.
O presidente, vendo pela frente "mar de almirante" e "céu de brigadeiro", já assegurou que "não há espaço para crise" no ano vindouro, anunciou desenvolvimento com distribuição de renda e saudou os novos integrantes do Conselho da República de maneira um tanto estranha: "2005 poderá marcar a passagem de vocês pela Terra", profetizou.
A mesma euforia está presente na apologética publicidade oficial que ocupa neste final de ano o horário nobre da TV, procurando difundir a sensação de que o melhor do Brasil, na realidade, é o governo brasileiro.
Todavia, o entusiasmo não impediu Lula de referir-se com certo amargor e ironia aos críticos de sua administração. Para fazê-lo, sintomaticamente, recorreu à mesma imagem utilizada por seu antecessor, o presidente Fernando Henrique Cardoso, que assiduamente disparava contra os "fracassomaníacos" -categoria na qual enquadrava a oposição petista. Lula preferiu mencionar aqueles que têm "desejo de fracasso", reciclando o conceito sem no entanto repetir a expressão cunhada por FHC, que também tinha o hábito de chamar seus opositores esquerdistas de "neobobos".
Em recente artigo publicado pela Folha, Xico Graziano, ex-presidente do Incra, listou as inúmeras mudanças por que passou o discurso do PT desde que subiu a rampa do Planalto. Sempre a ver defeitos e equívocos na gestão anterior, o ex-líder oposicionista, uma vez alojado no governo federal, arrependeu-se do que ele mesmo classificou de antigas "bravatas" e logo conciliou-se com situações que antes repudiava.
Não deixa de ser instrutivo observar como o poder impõe comportamentos semelhantes a seus ocupantes -ainda que eles se apresentem como empedernidos adversários.

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