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CLÓVIS ROSSI
Ano Novo e quarta marcha
SÃO PAULO - Nem preciso desejar
feliz Ano Novo ao leitor, se ele é motorizado, como a grande maioria, e
se ficou em São Paulo neste período
de festas. Ganhamos a inestimável
felicidade, embora pequena e inútil,
de poder pôr quarta marcha, até
quinta, no carro, mesmo em grandes avenidas, que deveriam ser
"freeways", mas que, de "free", não
têm nada.
Como mau brasileiro, acostumado a aceitar todas as penas que a vida/o governo nos impõem, já estava
tão habituado aos ciclópicos congestionamentos que ficava com a
sensação de que eles existem desde
os tempos do padre José de Anchieta, quando o automóvel nem havia
sido inventado.
Aliás, pela primeira vez na vida
tenho um propósito de Ano Novo:
quero ser ditador. Ditador municipal, que não dou para mais (nem para municipal, na verdade, mas sonhar é preciso). Só para baixar ato
institucional proibindo o retorno a
São Paulo dos carros que deixaram
a cidade nessa época de festas. Nada
pessoal. Seus ocupantes podem até
regressar, desde que deixem os veículos onde estão.
É a única solução. São Paulo entupiu. Não cabem nela tantos carros. Houve época, já remota, em
que a sabedoria convencional dizia
que a expansão do metrô resolveria
o problema.
Hoje, só se houvesse disposição e
dinheiro para plantar uma estação
de metrô em cada esquina.
Sem contar a necessidade de uma
revolução cultural para fazer o distinto público aceitar o transporte
coletivo, em uma era de individualismo exacerbado.
Nem sei se pedágio urbano resolve. Em Londres, ajudou algo, mas a
cidade conta com espetacular rede
de ônibus/metrô.
Aqui, será preciso ousadia de um
visionário. Duvido que haja no mercado. Tanto que o prefeito Gilberto
Kassab suspendeu o rodízio até dia
14. Como se o rodízio resolvesse algo nos outros dias.
crossi@uol.com.br
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