São Paulo, domingo, 30 de dezembro de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Ano Novo e quarta marcha

SÃO PAULO - Nem preciso desejar feliz Ano Novo ao leitor, se ele é motorizado, como a grande maioria, e se ficou em São Paulo neste período de festas. Ganhamos a inestimável felicidade, embora pequena e inútil, de poder pôr quarta marcha, até quinta, no carro, mesmo em grandes avenidas, que deveriam ser "freeways", mas que, de "free", não têm nada.
Como mau brasileiro, acostumado a aceitar todas as penas que a vida/o governo nos impõem, já estava tão habituado aos ciclópicos congestionamentos que ficava com a sensação de que eles existem desde os tempos do padre José de Anchieta, quando o automóvel nem havia sido inventado.
Aliás, pela primeira vez na vida tenho um propósito de Ano Novo: quero ser ditador. Ditador municipal, que não dou para mais (nem para municipal, na verdade, mas sonhar é preciso). Só para baixar ato institucional proibindo o retorno a São Paulo dos carros que deixaram a cidade nessa época de festas. Nada pessoal. Seus ocupantes podem até regressar, desde que deixem os veículos onde estão.
É a única solução. São Paulo entupiu. Não cabem nela tantos carros. Houve época, já remota, em que a sabedoria convencional dizia que a expansão do metrô resolveria o problema.
Hoje, só se houvesse disposição e dinheiro para plantar uma estação de metrô em cada esquina.
Sem contar a necessidade de uma revolução cultural para fazer o distinto público aceitar o transporte coletivo, em uma era de individualismo exacerbado.
Nem sei se pedágio urbano resolve. Em Londres, ajudou algo, mas a cidade conta com espetacular rede de ônibus/metrô.
Aqui, será preciso ousadia de um visionário. Duvido que haja no mercado. Tanto que o prefeito Gilberto Kassab suspendeu o rodízio até dia 14. Como se o rodízio resolvesse algo nos outros dias.

crossi@uol.com.br


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