São Paulo, quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

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ELIANE CANTANHÊDE

Questão de segurança

BRASÍLIA - Foi só o Exército botar a tropa na rua, ou melhor, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, para o governador Sérgio Cabral anunciar que vem aí o "bico" institucionalizado para os policiais do Estado. Alguns já dão segurança até para bandido, e todos vão poder dar também para as prefeituras (inclusive para a do próprio Rio) no seu tempo de folga.
O Exército não gostou desse anúncio do governador, estranhando que ele defenda simultaneamente a liberação do jogo e do "bico" para a polícia, enquanto os soldados aguentam o tranco.
Isso significa várias coisas: os policiais estão com tempo ocioso, ganhando pouco para trabalhar também pouco; o governador reconhece que os salários estão baixos e dá um jeito para a polícia ganhar algum por fora; os militares fazem as vezes de polícia e os próprios policiais ficam livres para trabalhar para terceiros.
A decisão de Cabral é resultado de uma continha quase aritmética: os policiais atuam em turnos de 24 por 72 horas consecutivas de folga. É trabalho de menos para folga de mais, inclusive porque é improvável que alguém fique acordado e trabalhando 24 horas ininterruptamente, sem uma cama ou cadeira por perto para bons cochilos.
Daí porque o policial que veste a farda para combater criminosos num dia pode muito bem tirá-la para proteger até criminosos nos três dias seguintes. E isso não é só em tese. Acontece efetivamente.
Em vez de aumentar os salários, rever os turnos de 24 por 72 e proibir policiais de atuar na segurança privada, Cabral vai simplesmente legalizar a prática. Soa assim: "Ou restaure-se a moralidade, ou locupletemo-nos todos".

 

Curiosidades: 1) quantos dos 8.094 veículos de comunicação que recebem verbas de publicidade do governo publicaram a história da Erenice como ela é? 2) quais são os 2.512 sites e blogs agraciados?

elianec@uol.com.br


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