São Paulo, quarta, 30 de dezembro de 1998

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ESTAGNAÇÃO SOCIAL E CRIME

Há algumas semanas, ao comentar números aliás nada abonadores sobre a violência no Rio de Janeiro, o secretário da Segurança fluminense observou que o número de homicídios no Estado em 97 havia diminuído. Parece estranho, mas é fato, segundo as estatísticas oficiais.
Mas, mesmo havendo menos assassinatos, a violência ainda é grande. Assim é porque, do mesmo modo como em São Paulo ou Vitória do Espírito Santo, será necessária forte redução do número de mortes criminosas para que o Brasil deixe o grupo de frente dos países com as maiores taxas de homicídios do mundo.
Mas tão dramáticos quantos esses indicadores são os sinais do quanto tal situação está econômica, social e culturalmente entranhada nas cidades. Tomem-se as últimas notícias do Rio. Bandidos em luto pela morte de seu líder fizeram o comércio de um bairro fechar as portas.
Não é só. O crime conquista cada vez mais espaços e mesmo mentalidades. Traficantes cariocas fecham avenidas ou interrompem o tráfego para realizar seus negócios. Bandidos fugidos da cadeia levam um bairro popular à festa para comemorar a burla da segurança estatal. Há as balas perdidas e chefes do bicho são mortos nas ruas na guerra entre os líderes da máfia do jogo.
Em São Paulo, apenas o modus operandi difere. Descrentes da segurança do Estado, os mais bem situados na escala social contratam milícias. Justiceiros são a opção de bairros pobres. Nesses lugares, o homicídio é o resultado cotidiano de vidas sem perspectiva, perdidas em álcool e droga. O crime organizado paulista, mais discreto, age por meio de forças-tarefas bem armadas, que saqueiam cargas e transportes de altos valores.
Não será apenas um governo que irá modificar substancialmente tal cenário, embora seja decepcionante a falta de criatividade e energia das autoridades no combate ao crime. Deve ser motivo de reflexão o fato de que, além da histórica pobreza, a situação social e econômica é insatisfatória há anos. Sem políticas e correções incisivas nessa área, o futuro das condições de vida nas grandes cidades será provavelmente sombrio.



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