|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GOVERNO E SEQUESTRADORES
Criou-se uma conturbação indevida
no caso dos sequestradores de Abílio
Diniz. Ela começou com uma atitude
titubeante das autoridades brasileiras e tornou-se maior com a chantagem dos presos.
Em abril, os sequestradores iniciaram a primeira greve de fome. Os estrangeiros queriam a expulsão do
país; o brasileiro, o indulto. Se o governo cedesse, sofreria descrédito,
além de incitar um sentimento de impunidade. Expulsar significaria conceder a liberdade aos criminosos estrangeiros, que não precisariam mais
cumprir o restante das penas.
O governo poderia ter adotado a legítima orientação de manter os sequestradores presos para garantir o
cumprimento integral das penas.
Mas o governo ensaiou o que seria
uma solução mais ajustada com as
conveniências diplomáticas: a assinatura de tratados bilaterais para a
transferência de presos. Cada sequestrador cumpriria o restante das
penas em seu país de origem.
No entanto, patrocinar a transferência dos criminosos, desde logo,
pareceu, no mínimo, controverso.
Mesmo assim, pouco foi feito para
esclarecer a opinião pública. Em um
ambiente de desinformação, os sequestradores canadenses foram exportados em novembro, enquanto os
demais esperam por tratados.
O cenário que está hoje armado é
inusitado. Os criminosos chantageiam as autoridades com uma segunda greve de fome, que completou
ontem 44 dias. O presidente da República, pressionado, pede paciência
aos sequestradores e apela para que
desistam da greve de fome porque o
caso está em via de solução: suas
transferências, mesmo que o Legislativo não as tenha aprovado. O Judiciário reclamou das pressões para
acelerar o julgamento da revisão das
penas dos sequestradores.
Em todo o caso, é absurdo como a
falta de clareza na ação tenha colocado a cúpula dos Poderes da República como refém de sequestradores.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|