São Paulo, quarta, 30 de dezembro de 1998

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GOVERNO E SEQUESTRADORES

Criou-se uma conturbação indevida no caso dos sequestradores de Abílio Diniz. Ela começou com uma atitude titubeante das autoridades brasileiras e tornou-se maior com a chantagem dos presos.
Em abril, os sequestradores iniciaram a primeira greve de fome. Os estrangeiros queriam a expulsão do país; o brasileiro, o indulto. Se o governo cedesse, sofreria descrédito, além de incitar um sentimento de impunidade. Expulsar significaria conceder a liberdade aos criminosos estrangeiros, que não precisariam mais cumprir o restante das penas.
O governo poderia ter adotado a legítima orientação de manter os sequestradores presos para garantir o cumprimento integral das penas.
Mas o governo ensaiou o que seria uma solução mais ajustada com as conveniências diplomáticas: a assinatura de tratados bilaterais para a transferência de presos. Cada sequestrador cumpriria o restante das penas em seu país de origem.
No entanto, patrocinar a transferência dos criminosos, desde logo, pareceu, no mínimo, controverso. Mesmo assim, pouco foi feito para esclarecer a opinião pública. Em um ambiente de desinformação, os sequestradores canadenses foram exportados em novembro, enquanto os demais esperam por tratados.
O cenário que está hoje armado é inusitado. Os criminosos chantageiam as autoridades com uma segunda greve de fome, que completou ontem 44 dias. O presidente da República, pressionado, pede paciência aos sequestradores e apela para que desistam da greve de fome porque o caso está em via de solução: suas transferências, mesmo que o Legislativo não as tenha aprovado. O Judiciário reclamou das pressões para acelerar o julgamento da revisão das penas dos sequestradores.
Em todo o caso, é absurdo como a falta de clareza na ação tenha colocado a cúpula dos Poderes da República como refém de sequestradores.



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