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EM NOME DA VIDA
Num ataque sem precedentes
à indústria farmacêutica mundial, o Vaticano acusou os grandes
laboratórios internacionais de promoverem um "genocídio" ao impedir, na prática, que muitos pacientes
de Aids de países pobres tenham
acesso aos medicamentos que permitem controlar a moléstia. Nas palavras do padre Angelo D'Agostino,
que alia a condição de jesuíta à de
médico, a ação dos cartéis das empresas farmacêuticas, que se negam
a tornar acessível o preço dos remédios, tendo auferido lucros, em 2002,
de US$ 517 bilhões, "é genocida".
Embora a acusação venha num
tom de arroubo retórico, a Santa Sé
está certa em pressionar a indústria
farmacêutica. Não há dúvida de que
laboratórios, até para efeitos de imagem no Primeiro Mundo, poderiam
desenvolver uma política mais flexível para os impactos da Aids no Terceiro Mundo, em especial na África.
Os números consolidados do continente são aterradores. A África subsaariana abriga entre 25 milhões e 28
milhões de portadores do HIV. Dos 3
milhões de óbitos mundiais registrados em 2003, 2,3 milhões ocorreram
na região. Vale observar que os laboratórios relutam em baixar o preço
das drogas para a África por temer
que os remédios mais baratos sejam
contrabandeados e depois revendidos na Europa e nos EUA.
Estão, assim, corretas e são bem-vindas as críticas da Igreja Católica
aos laboratórios. A guerra contra a
Aids, porém, se trava em dois campos: tratamento e prevenção. E, no
que diz respeito à prevenção, as posições defendidas por Roma, notadamente a condenação do uso de preservativos, são indefensáveis. O Vaticano poderia auxiliar de forma mais
direta as populações de países pobres se aceitasse que, ao menos "in
extremis", o preservativo é uma alternativa legítima, como, aliás, já defendem alguns sacerdotes.
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