|
Próximo Texto | Índice
Crédito em casa
Do setor habitacional depende a continuidade da expansão vigorosa no volume de empréstimos na economia brasileira
O VOLUME de crédito na
economia brasileira
cresceu com vigor em
2006, praticamente
repetindo a performance do ano
anterior. O saldo de R$ 733 bilhões emprestados a pessoas físicas e jurídicas em dezembro representava 34,3% do PIB, alta de
três pontos percentuais em relação a dezembro de 2005.
Em grande velocidade, a proporção crédito/PIB vai-se aproximando dos 37% apurados em
fevereiro de 1995, o recorde na
série que o Banco Central elabora desde 1988. Há dúvidas, portanto, sobre a capacidade da economia de sustentar cargas de
empréstimos acima desse nível.
A favor da superação dessa
barreira estão as condições macroeconômicas, bem mais favoráveis do que há 12 anos -quando a euforia do Plano Real e a
queda abrupta da inflação alavancaram o crédito. Desapareceu, na esteira do maior crescimento mundial em três décadas,
a restrição externa brasileira, o
que se traduziu em alívio nos juros internos. Em fevereiro de
1995, em pleno "boom" do crédito, a taxa de juros média cobrada
das pessoas físicas era de 232,3%
ao ano; em dezembro de 2006,
chegou a 52,1%.
Romper a casa dos 37% do PIB,
porém, é uma meta ainda insatisfatória para as necessidades
do Brasil. Mesmo países emergentes sustentam quantidade de
empréstimos bem maior. A proporção de crédito no Chile, por
exemplo, supera 60% do PIB.
Nos países desenvolvidos, essa
taxa fica acima de 100%.
Se o montante de empréstimos
é diminuto na economia brasileira como um todo, no setor da habitação essa carência se agrava.
O saldo de crédito para fins residenciais no mês passado era de
apenas 1,7% do PIB -muito
aquém da média da América Latina (9%), insignificante diante
dos 27% da Ásia emergente e
desprezível em relação aos 58%
das economias maduras.
No mercado imobiliário brasileiro está o maior nó a ser desatado para manter o vigor na expansão do crédito. Nos últimos meses, nota-se um alongamento
acelerado no prazo médio dos
empréstimos habitacionais (que
ainda é muito curto, pouco superando quatro anos). Cresce, também, o interesse de investidores
estrangeiros no setor. Nada, no
entanto, permite atestar que a
explosão de crédito habitacional
prevista por muitos especialistas
já seja uma tendência instalada.
Estão ainda ausentes -ou são
muito novas- instituições para
minimizar a insegurança jurídica nos empréstimos imobiliários. A chamada portabilidade do
crédito habitacional (a faculdade
de, sem ônus, trocar de credor
em pleno financiamento, o que
fomentaria a concorrência bancária) ainda não saiu do papel.
Há, ademais, pouca preocupação com uma arquitetura que dê
liquidez aos títulos imobiliários.
Autoridades relutam em encarar
a questão dos rendimentos da
caderneta de poupança -esteio
financeiro do mercado habitacional- num ambiente de queda
dos juros. Essa lentidão dos governantes para tomar decisões
oportunas ameaça pôr a perder
mais uma excelente chance de
fazer a economia deslanchar.
Próximo Texto: Editoriais: Fim de um ciclo
Índice
|