São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 2010

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EMÍLIO ODEBRECHT

Hora de ser humilde

ALGUMAS SEMANAS atrás, em artigo aqui publicado, fiz uma generalização que merece reparo. Afirmei que os brasileiros ainda têm uma visão negativa de si mesmos. Estou convicto de que é apenas uma parcela e pequena. A grande maioria dos brasileiros têm hoje uma autoestima elevada. E faz sentido.
A economia se fortalece e é crescente, o desnível social ainda elevado começa a decrescer e cada vez mais pessoas são incluídas na faixa de consumo. A inflação permanece baixa e, o mais importante, vivemos estes avanços sob um regime democrático.
Somos o B dos BRICs, países tão respeitados mundialmente quanto os do G8 e podemos nos tornar, nas próximas décadas, uma nação de classe média, com perfil socioeconômico semelhante ao dos países desenvolvidos.
Por ser verdade tudo o que foi dito acima, acho indispensável estarmos alertas para que não nos deixemos consumir por uma autoconfiança cega e pela presunção que alimenta os arrogantes.
Nos momentos de prosperidade é que se deve pensar nos desafios que vêm pela frente, até porque os resultados de hoje, sem desmerecer a geração atual, são também frutos de uma série de atos e fatos protagonizados pelas gerações passadas.
A história de um país não pode ser vista como uma fotografia, mas como um filme, dinâmico e mutável, e o progresso material é um processo cumulativo que se mede em décadas e séculos, impulsionado pela cultura da poupança e do investimento.
Se os brasileiros de hoje colhem os frutos do empenho de quem nos antecedeu, é dever de cada um também esforçar-se no mesmo sentido, em prol das gerações vindouras.
O futuro depende de hoje e não podemos nos esquecer que o Brasil tem severas limitações na educação e na saúde, na infraestrutura, na segurança pública e na eficiência gerencial e administrativa do Estado. Justamente por isso a sociedade brasileira e seus representantes precisam renovar seus estoques de humildade e autocrítica porque ainda há muito a ser feito para que preservemos o que já foi conquistado e avancemos mais, alcançando novos patamares de desenvolvimento.
Encaremos o presente (e pensemos o futuro) com bom senso e parcimônia. Temos ainda tantos desafios pela frente que as vitórias de hoje devem ser tratadas como sementes das de amanhã.
Não deixemos que a autossatisfação nos conduza à euforia estéril dos que já alcançaram tudo que sonhavam. Nosso país só realizará plenamente seu potencial se cada um de nós assumir a responsabilidade de fazer sua parte para que isto ocorra, de fato e para todos.


EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.

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