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EMÍLIO ODEBRECHT
Hora de
ser humilde
ALGUMAS SEMANAS atrás,
em artigo aqui publicado, fiz
uma generalização que merece reparo. Afirmei que os brasileiros ainda têm uma visão negativa de si mesmos. Estou convicto de
que é apenas uma parcela e pequena. A grande maioria dos brasileiros têm hoje uma autoestima elevada. E faz sentido.
A economia se fortalece e é crescente, o desnível social ainda elevado começa a decrescer e cada vez
mais pessoas são incluídas na faixa
de consumo. A inflação permanece
baixa e, o mais importante, vivemos estes avanços sob um regime
democrático.
Somos o B dos BRICs, países tão
respeitados mundialmente quanto
os do G8 e podemos nos tornar, nas
próximas décadas, uma nação de
classe média, com perfil socioeconômico semelhante ao dos países
desenvolvidos.
Por ser verdade tudo o que foi dito acima, acho indispensável estarmos alertas para que não nos deixemos consumir por uma autoconfiança cega e pela presunção que
alimenta os arrogantes.
Nos momentos de prosperidade
é que se deve pensar nos desafios
que vêm pela frente, até porque os
resultados de hoje, sem desmerecer a geração atual, são também
frutos de uma série de atos e fatos
protagonizados pelas gerações passadas.
A história de um país não pode
ser vista como uma fotografia, mas
como um filme, dinâmico e mutável, e o progresso material é um
processo cumulativo que se mede
em décadas e séculos, impulsionado pela cultura da poupança e do
investimento.
Se os brasileiros de hoje colhem
os frutos do empenho de quem nos
antecedeu, é dever de cada um
também esforçar-se no mesmo
sentido, em prol das gerações vindouras.
O futuro depende de hoje e não
podemos nos esquecer que o Brasil
tem severas limitações na educação e na saúde, na infraestrutura,
na segurança pública e na eficiência gerencial e administrativa do
Estado. Justamente por isso a sociedade brasileira e seus representantes precisam renovar seus estoques de humildade e autocrítica
porque ainda há muito a ser feito
para que preservemos o que já foi
conquistado e avancemos mais, alcançando novos patamares de desenvolvimento.
Encaremos o presente (e pensemos o futuro) com bom senso e
parcimônia. Temos ainda tantos
desafios pela frente que as vitórias
de hoje devem ser tratadas como
sementes das de amanhã.
Não deixemos que a autossatisfação nos conduza à euforia estéril
dos que já alcançaram tudo que sonhavam. Nosso país só realizará
plenamente seu potencial se cada
um de nós assumir a responsabilidade de fazer sua parte para que isto ocorra, de fato e para todos.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos nesta coluna.
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