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CARLOS HEITOR CONY
Romeu e Julieta
RIO DE JANEIRO - A historinha
aconteceu com amiga minha. É verdadeira, tão verdadeira que terei
de disfarçar para contar o milagre
sem mencionar o santo. Digamos
que ela se chama Ligia, é atriz de sucesso, casou-se aos 26 anos, separou-se e engatou caso com um colega de profissão, ator bastante conhecido, dez anos mais velho. Até
aí, uma história banal, sem nada de
extraordinário.
Ela ia a uma festa e foi procurar
um anel que havia ganhado do ex-marido. Não o encontrou. Pensou
que tinha sido roubada. Uma vez
por semana vinha a faxineira, que
era de confiança, mas nunca se
sabe.
Comentou com o companheiro.
Era a primeira vez que dava por falta de alguma coisa em sua casa. O
homem ficou sem jeito, perguntou
se ela não tinha usado o anel e o perdera por aí. Ela garantiu que não.
Estava tão chateada que o homem
resolveu contar a verdade. Confessou que roubara o anel na primeira
noite em que dormiram juntos. Não
sabia que era uma joia tão importante assim, um simples anel, de valor duvidoso.
"Mas por que fez isso?", perguntou a mulher espantada.
Ele contou uma história comprida. Os anos de palco lhe davam treino para ser convincente. O anel era
presente de outro homem, símbolo
de uma união que acabara. Nem era
ciúme o que sentia. Mas um sinal de
que ela tivera um passado. Ficaria
ele com o anel e lhe daria outro,
com uma pérola e um diamante,
jóia antiga, de outros tempos, era
conhecido como Romeu e Julieta.
"E onde está o meu anel? Quero-o de volta!". "Trago amanhã", prometeu o amante.
No dia seguinte, ela recebeu o
anel antigo todo arrebentado, e o
novo, com pérola e diamante, e um
bilhete: "O anel que te roubei era vidro e se quebrou, o amor que eu tinha, era muito, por isso acabou".
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