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A mão nada invisível
CLÓVIS ROSSI
Davos - Jérôme Monod, presidente
da empresa francesa Lyonnaise des
Eaux, parafraseia o estadista britânico Winston Churchill, para quem "a
democracia é o pior dos regimes, exceto todos os outros". Monod troca democracia por capitalismo, para dizer
que "é o pior dos regimes, exceto todos
os outros". De pleno acordo. Pena que,
como não há qualquer outro regime à
disposição, a frase tenha que ser reduzida à sua primeira parte ("o capitalismo é o pior dos regimes").
Pelo menos o capitalismo absolutamente selvagem praticado no Brasil,
como volta a se ver agora. Não há a
mais leve razão técnica para que o dólar se valorize em mais de 40% ante o
real, assim mesmo exagerando um bocado. No entanto, valorizou-se pela
chamada "mão invisível" do mercado.
Não há tampouco razão alguma para que certos preços se movam ou para
que outros subam tanto ou até mais
que a desvalorização do real. No entanto, é o que está ocorrendo.
O fato é que a "mão invisível", ao
contrário da teoria, não promove a
correta alocação de recursos nem leva
os preços para os níveis adequados.
Deixada livre, leve e solta, a "mão"
busca, apenas, o máximo possível de
lucro no menor espaço de tempo possível. Ou, na hipótese mais benigna, trata de minimizar as perdas, ainda que
às custas de impor perdas maiores ao
conjunto da sociedade -em especial
aos que não têm apenas a mão invisível, mas todo o corpo, os excluídos de
tudo, até do debate político.
Vale por isso reproduzir advertência
feita ontem por um liberal de impecáveis credenciais, o secretário norte-americano do Tesouro, Robert Rubin:
"Não creio que um sistema econômico
com base no mercado, e uma economia global saudável, sejam sustentáveis a menos que se dêem fortes passos
para corrigir a tremenda desigualdade de renda que é demasiado evidente
em todo o mundo -entre nações e
dentro das nações".
Faltou acrescentar que "passos" não
se dão com a mão, visível ou invisível.
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