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Última chance
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - A indústria sofre com o governo, que joga os juros na estratosfera. Mas o governo depende da indústria, que não deve, mas pode, botar os
preços na mesma altura.
Depois das empresas aéreas, dois outros setores vão se reunir em São Paulo para anunciar novidades para você,
consumidor em pânico.
São o farmacêutico, amanhã, e o das
pequenas empresas de iluminação, na
terça. Ambos com uma pauta praticamente definida: o adiamento de qualquer aumento de preços até março. Será?
Um quarto setor, o de brinquedos,
está duplamente na contramão da crise. Primeiro, porque sofria feito condenado com a importação e adorou a
reviravolta na política cambial. Segundo, porque anuncia que vai crescer
em torno de 12% este ano, com redução de 3% nos preços. Será?
Os remédios são os produtos que
mais aumentam no Brasil depois do
Real. Uma barbaridade, que é sofrida
pela população praticamente toda e
que a indústria tenta justificar com a
defasagem de anos de tabelamento.
No caso das pequenas, acontece agora o de sempre: quando a porca torce o
rabo, o governo se sai com a história
de que elas são o máximo, vão receber
mundos e fundos e salvar o país. Será?
Sempre se imagina que só as pessoas
comuns (pobres, assalariados, desempregados, servidores públicos) se arrebentam quando o país cai no precipício. Não. O setor produtivo se estatela
primeiro. E sobra para eles.
São as empresas, com todos os seus
vícios e defeitos, que seguram a economia e produzem empregos. Já estava
difícil. Agora virou um caos.
Elas, porém, estão como o Congresso, a maioria dos governadores, os
principais líderes da oposição e os próprios trabalhadores: não querem jogar
mais lenha na fogueira. Ou melhor,
gravetos na explosão.
O problema é o governo confirmar
em um mês a tese de que tudo não
passa de uma "bolha especulativa". O
dólar vai à estratosfera, mas depois
recua para um equilíbrio em torno de
R$ 1,70. Será?
É sua última chance. Depois, fim da
trégua.
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