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São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2003

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NOVENTA DIAS

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva vive hoje o seu 90º dia. Até o momento, é possível dizer que a nova coalizão governista ainda não encontrou um rumo político. Ainda não exibe um projeto de governo propriamente dito, imersa que está numa confusão de iniciativas e na frustração de expectativas sobre a sua principal promessa inicial, o programa Fome Zero.
O continuísmo na política econômica, obsessivamente preocupada em diminuir a resistência inicial dos chamados mercados financeiros a um governo de origem esquerdista, é, por certo, o nó político mais incômodo de desatar para um presidente que, na campanha, prometeu mudanças nessa área.
Lula agora acena com "surpresas" na economia para 2004. Mas basta uma rápida checagem sobre a origem e as declarações de seus principais assessores econômicos ao longo desse trimestre para notar que, se há um plano B para a economia, trata-se de um segredo muito bem guardado e que demandaria uma substituição de cabeças razoavelmente extensa na equipe econômica.
Nem mesmo a política de substituição de importações, outrora tão propalada por petistas, concede o ar da graça. E há investimentos que precisam ser feitos com urgência em setores como o químico, se o país quiser vencer obstáculos estruturais ao crescimento sustentável.
No setor social, a frustração foi maior. Uma das maneiras que o governo encontrou de tentar fazer com que o público "compreendesse" a dificuldade de realizar mudanças drásticas na economia foi, justamente, prometer uma gestão inovadora no social, de cujo símbolo maior seria o Fome Zero. O programa, porém, retrocede para práticas assistencialistas e paternalistas e até hoje não conseguiu consenso nem mesmo entre os governistas.
Um governo que enfrenta uma crise financeira em seu início necessita de uma dose de pragmatismo. Essa constatação óbvia não pode servir de desculpa para a inoperância e para a ausência de iniciativas que constituam um projeto e uma linha de governo. Afinal, são medíocres, na melhor das hipóteses, governos que se resumem a gerir o dia-a-dia.


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