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NOVENTA DIAS
O governo de Luiz Inácio Lula
da Silva vive hoje o seu 90º dia.
Até o momento, é possível dizer que
a nova coalizão governista ainda não
encontrou um rumo político. Ainda
não exibe um projeto de governo
propriamente dito, imersa que está
numa confusão de iniciativas e na
frustração de expectativas sobre a sua
principal promessa inicial, o programa Fome Zero.
O continuísmo na política econômica, obsessivamente preocupada
em diminuir a resistência inicial dos
chamados mercados financeiros a
um governo de origem esquerdista,
é, por certo, o nó político mais incômodo de desatar para um presidente
que, na campanha, prometeu mudanças nessa área.
Lula agora acena com "surpresas"
na economia para 2004. Mas basta
uma rápida checagem sobre a origem e as declarações de seus principais assessores econômicos ao longo desse trimestre para notar que, se
há um plano B para a economia, trata-se de um segredo muito bem
guardado e que demandaria uma
substituição de cabeças razoavelmente extensa na equipe econômica.
Nem mesmo a política de substituição de importações, outrora tão
propalada por petistas, concede o ar
da graça. E há investimentos que precisam ser feitos com urgência em setores como o químico, se o país quiser vencer obstáculos estruturais ao
crescimento sustentável.
No setor social, a frustração foi
maior. Uma das maneiras que o governo encontrou de tentar fazer com
que o público "compreendesse" a dificuldade de realizar mudanças drásticas na economia foi, justamente,
prometer uma gestão inovadora no
social, de cujo símbolo maior seria o
Fome Zero. O programa, porém, retrocede para práticas assistencialistas e paternalistas e até hoje não conseguiu consenso nem mesmo entre
os governistas.
Um governo que enfrenta uma crise financeira em seu início necessita
de uma dose de pragmatismo. Essa
constatação óbvia não pode servir de
desculpa para a inoperância e para a
ausência de iniciativas que constituam um projeto e uma linha de governo. Afinal, são medíocres, na melhor das hipóteses, governos que se
resumem a gerir o dia-a-dia.
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