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40 ANOS DEPOIS
Se há algo a comemorar no
aniversário de 40 anos do golpe
de 31 de março de 1964 é justamente
o fato de podermos afirmar que o ciclo militar se encontra hoje encerrado num passado histórico. Se suas
repercussões ainda se fazem sentir e
se há facetas a merecer esclarecimentos, não há dúvida de que o fantasma
da ditadura militar já não mais assombra a vida nacional.
O movimento ocorreu num quadro
de forte radicalização da política nacional e internacional, sob o signo da
Guerra Fria. Impulsionada pela expansão do império soviético, pelo recrudescimento de lutas de libertação
nacional e pela revolução cubana, de
1959, a esquerda brasileira via-se no
início da década de 60 na iminência
de chegar ao poder. Essa perspectiva
tornou-se mais palpável com a restituição dos poderes presidencialistas
ao trabalhista João Goulart, em 1963.
Ameaçada e em dificuldades para
organizar uma alternativa política
própria, capaz de barrar as pretensões da esquerda, parte da elite do
país apoiou e se associou ao que considerava a saída possível: uma conspiração militar. Tendo à frente o marechal Humberto de Alencar Castello
Branco, as Forças Armadas assumiram o comando do país prometendo
uma breve intervenção. Não foi, como se sabe, o que aconteceu.
Hoje, o Brasil que volta suas atenções para aqueles anos de arbítrio é
uma sociedade organizada em torno
de um regime de liberdades. Vigora o
Estado de Direito, realizam-se eleições, a imprensa encontra as condições para exercer seu papel e o pensamento e a cultura livraram-se das
amarras da censura.
Foi tortuoso e acidentado o caminho para que se alcançassem esses
valiosos objetivos. O declínio militar
coincidiu e foi precipitado por uma
aguda crise econômica. O modelo de
desenvolvimento organizado pelo
regime ruiu sob os efeitos de choques internacionais e de um dramático quadro de endividamento.
Ao longo da década de 1980, o país
viveu a frustração das reivindicações
por eleições diretas e passou por um
conturbado período de transição,
marcado, no plano político, por agudos conflitos em torno da organização do novo arcabouço institucional
e, no econômico, por desequilíbrio
fiscal, estrangulamento externo, baixo crescimento e alta inflação.
A eleição pelo voto direto do primeiro presidente civil coincidiu com
uma profunda mudança no cenário
internacional. Ao mesmo tempo em
que Fernando Collor de Mello saía vitorioso das urnas, era derrubado o
Muro de Berlim e esfacelava-se o bloco socialista organizado em torno da
antiga União Soviética. Encerrava-se
a era Guerra Fria e inaugurava-se
uma nova ordem internacional, na
qual prosperaria a lógica da globalização e da liberalização econômica.
Hoje, salta aos olhos que as fundamentais conquistas democráticas
obtidas nas últimas décadas ainda
dependem para sua plena realização
de que parcelas inteiras da população possam emergir da linha de pobreza. No Brasil democrático, cidadãos pobres continuam subsistindo
sem acesso satisfatório à saúde, à
educação, ao emprego e à Justiça.
Por vezes empurrados para a marginalidade, são presos e torturados em
porões em tudo semelhantes aos que
se utilizavam nos anos de chumbo
do regime ditatorial.
É esse o enorme desafio que se
apresenta ao Brasil em seu caminho
para se tornar uma nação mais digna
e civilizada: promover o crescimento, reduzir as desigualdades e permitir que os seus filhos desfrutem dos
benefícios do desenvolvimento e dos
direitos da cidadania.
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