São Paulo, quarta-feira, 31 de março de 2004

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PIORA REGIONAL

As economias latino-americanas permanecem "fragilizadas" e vulneráveis a choques externos, de acordo com o "Informe Anual 2003" do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). A incidência de pobreza, isto é, pessoas vivendo com menos de US$ 2 por dia, que havia diminuído nos anos 90, voltou a subir, atingindo 225 milhões de pessoas. Em termos percentuais, a faixa de pobreza, que atingia 42,1% da população regional em 2000, passou a 44% em 2003. Outra má notícia é a constatação de que a taxa de desemprego alcançou o maior patamar registrado pelo BID -de 10,7%, em média.
Desde 1980, ocorreram crises econômicas importantes em 22 países latino-americanos, levando-os a um quadro de paralisia financeira. Nos sete maiores países da região, os empréstimos ao setor produtivo caíram 20% em termos reais entre 1998 e 2003. Por sua vez, o endividamento público das sete maiores economias saltou de 37% do PIB (Produto Interno Bruto) em 1997 para 51% em 2002. Com isso, os investimentos públicos e privados encolheram para o menor nível dos últimos dez anos. Entre os anos de 1997 e 2002, a queda dos investimentos no Brasil atingiu 10% e, na Argentina, 60%.
As taxas recordes de desemprego e de pobreza, a carência de crédito bancário e o alto endividamento público têm sido compensados, temporariamente, por um cenário internacional favorável. A elevada liquidez e as baixas taxas de juros internacionais, associadas à forte demanda por matérias-primas latino-americanas (puxada principalmente pelo crescimento da China), permitem a projeção de uma taxa de crescimento para os países latino-americanos em torno de 4% em 2004, bem acima do 1,5% de 2003. Entretanto, esse dinamismo pode não se sustentar a médio prazo. Os grandes problemas continuam "presentes e preocupantes", segundo o BID, podendo dificultar a retomada do crescimento das economias latino-americanas, sobretudo se tiver lugar uma deterioração do contexto internacional.
Sendo assim, as perspectivas de médio e longo prazo mostram-se bastante incertas. A boa nova tem sido o ajuste externo. Na Argentina, o déficit em conta corrente de 5% do PIB registrado em 1998 foi invertido para um superávit de 8% do PIB em 2003. No mesmo período, na Venezuela passou-se de um déficit de 5% para um superávit de 13%.
Esses esforços para acumular saldos comerciais são parte de uma estratégia correta para reduzir a necessidade de financiamento externo dos diversos países. Farão bem os governos que continuarem nessa direção.


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