São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2006

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AQUÉM DO ESPERADO

Escorada no grande clamor que se seguiu às entrevistas de Roberto Jefferson a esta Folha e em uma composição razoavelmente equilibrada entre apoiadores e adversários do governo, a CPI dos Correios teve as melhores condições possíveis para aprofundar-se nas investigações. A primeira minuta do relatório final do colegiado, divulgada anteontem, se não pode ser considerada um fracasso, ficou certamente aquém do desejado.
É provável que os limites políticos da investigação tenham sido impostos pelo seu próprio objetivo: investigar muitos parlamentares. Se era verdadeira ou falsa a denúncia de Jefferson de que se contavam às dezenas os agraciados com dinheiro providenciado pelo governismo, a CPI passou ao largo de responder.
No relatório, Osmar Serraglio (PMDB-PR) desmontou a versão fantasiosa de que a origem dos recursos destinados a parlamentares eram empréstimos bancários. Mas a comissão furtou-se a quebrar os sigilos de colegas, o que era fundamental para conhecer o volume e a extensão dos pagamentos, bem como para subsidiar processos políticos e judiciais contra os envolvidos.
As informações mais comprometedoras contra parlamentares pouco avançaram em relação ao que se sabia em setembro do ano passado. O ímpeto inicial da oposição foi refreado com a descoberta de que o "valerioduto" atuara a favor de tucanos mineiros em 1998.
Esse notável apaziguamento de ânimos dos oposicionistas -somado ao interesse do governismo no abafamento do caso- contribuiu para que a temperatura da crise fosse baixando e uma grande "pizza" fosse sendo servida na forma de absolvições escandalosas de beneficiários do "valerioduto" no plenário da Câmara. Apenas três parlamentares foram cassados até aqui.
O ceticismo com os resultados futuros do relatório da CPI dos Correios só faz aumentar quando oposição e governo debatem o teor do texto que deve ser votado na terça-feira. Uma investigação cujos resultados estão abertos a negociação política não pode ser levada tão a sério.


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